Lava-Jato: Delcídio detona Gleisi e ressuscita período em que a petista foi diretora da bilionária Itaipu

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A explosiva delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS) atingiu, também de forma devastadora, mais um importante alvo: a binacional Itaipu ao tempo em que a senadora Gleisi Helena Hoffmann era diretora financeira (2003-2006) usina hidrelétrica.

A Itaipu é considerada um buraco negro por onde transitam bilhões de dólares, sem que os órgãos de controle, como tribunais de contas e controladorias, têm pouca eficácia, devido ao seu caráter binacional – trata-se de empresa formada por associação entre o Brasil e o Paraguai.

Em seu acordo de delação, Delcídio citou Gleisi e a Itaipu, entregando o “mapa da mina”. No documento que traz a integra do depoimento, merece destaque o trecho em que o delator afirma que “se deve dar atenção especial para o período em que Gleisi foi diretora financeira de Itaipu, quando vários ‘claims’ [negócios envolvendo obras] de obras passaram pelas suas mãos. O mesmo vale para as concessões do Porto de Santos quando a mesma, como chefe da Casa Civil teve atuação decisiva na definição das áreas leiloadas. Ressalte-se que o operador de Gleisi sempre foi o seu marido Paulo Bernardo, sendo que na visão do depoente, e um dos melhores captadores de recursos do PT”.

Apesar de toda a proteção que a Itaipu goza devido ao seu estatuto, a passagem de Gleisi pela empresa ficou marcado por um escândalo. Quando decidiu ser candidata ao Senado, em 2006, Gleisi conseguiu ser “demitida” pelo diretor geral da hidrelétrica, o também petista Jorge Samek. A manobra rendeu à senadora a bagatela de R$ 145 mil.

Em 29 de março de 2006, Gleisi foi “exonerada” do cargo da diretoria financeira de Itaipu Binacional, mas deixou o cargo quando bem entendeu: a “companheira” saiu candidata ao Senado naquele ano, mas não foi eleita.

Por meio de um acordo com o comando de Itaipu, Gleisi trocou a “exoneração a pedido”, o que de fato ocorreu, pela “exoneração”, ou seja, demissão. Com isso, recebeu, além de férias proporcionais, entre outros, os 40% de indenização sobre o saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), além de poder sacar o próprio FGTS.

Delcídio também afundou Gleisi, ainda mais, na Operação Pixuleco II, 18ª fase da Operação Lava-Jato, que investiga fraudes a partir de empréstimos consignados no Ministério do Planejamento.

De acordo com o senador-delator, o “Fundo Consist”, era quem financiava despesas do mandato da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). A empresa teria atuado no desvio de recursos de empréstimos consignados quando a pasta do Planejamento era comandada pelo marido da senadora, o entao ministro Paulo Bernardo da Silva.


“Que é de notório conhecimento sua relação com a empresa Consist, sendo que a empresa acompanha o casal Bernardo e Gleisi desde a época em que foram secretários do então governador do MS, Zeca do PT. Que a Consist, sempre atuou como braço financeiro dos mesmos, e como mantenedora das despesas do mandato da senadora Gleisi, nos últimos anos. Que existem provas incontestáveis sobre isso”, afirmou o delator aos investigadores.

“Ainda, cabe destacar que Gleisi tinha estreito relacionamento com outros petistas, como José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, e Carlos Gabas, ex-ministro da Previdência”.

Gleisi já é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal que investiga sua participação no esquema de corrupção da Petrobras, o Petrolão, mas a senadora nega envolvimento.

A ex-chefe da Casa Civil é também investigada pelo Supremo por conta das suspeitas em relação à Consist, mas o caso está com o ministro Dias Toffoli porque os ministros da Corte entenderam que o imbróglio não tem conexão com a Lava-Jato.

De acordo com os investigadores, “parte expressiva da remuneração da Consist, cerca de 9,6% do faturamento líquido foi utilizada para pagamentos associados à senadora Gleisi Hoffmann”.

Entre as despesas pagas com esses recursos estariam um débito de R$ 1.344,51, a título de pagamento de multa relacionada ao nome da própria senadora, e débitos relacionados a Zeno Minuzzo e Hernany Bruno Mascarenhas, pessoas ligadas à petista, segundo a autoridade policial.

Em um dos lançamentos de débito junto ao nome de Hernany consta a anotação “salário motorista – cheque 828”, enquanto no outro, “Diversos PT, PB, Gleisi”.

Para a Polícia Federal, Mascarenhas prestaria serviços de motorista à senadora, enquanto Zeno Minuzzo teria sido secretário de finanças do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores.

Na tentativa de acobertar os repasses, o escritório teria prestado alguns poucos serviços à Consist, mas aparentemente incompatíveis com a remuneração de cerca de R$ 7 milhões.