José Eduardo Cardozo: de ministro da Justiça a defensor de governo corrupto e do chefe da quadrilha

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Em tempos outros, José Eduardo Martins Cardozo já foi coerente. É fato que manter a coerência defendendo o PT não é tarefa fácil, mas diante da impossibilidade o melhor é sair de cena ou mandar o partido pelos ares. Afinal, Cardozo tem se comportado como advogado de facção criminosa.

Há anos, em entrevista publicada nas “paginas amarelas” da revista Veja, Cardozo, em ato de bravura, reconheceu que o PT havia participado do escândalo do Mensalão – abre-alas para o Petrolão – e que devia desculpas à sociedade brasileira.

“Vou ser claro: teve pagamento ilegal de recursos para políticos aliados? Teve. Ponto final. É ilegal? É. É indiscutível? É. Nós não podemos esconder esse fato da sociedade”, declarou Cardozo à revista Veja, em outubro de 2008.

De acordo com a publicação, na entrevista o agora advogado-geral da União falou sobre “o desafio de fazer uma depuração ética no PT e sobre o paradoxo de ter ao lado companheiros que colaboraram para levar o partido ao fundo do poço”. Ao que parece, oito anos depois, José Eduardo Cardozo fracassou como faxineiro do partido que já é considerado uma organização criminosa.

Ainda no governo por ser uma das lanças de Dilma Rousseff contra Lula, o ministro suspenso da Casa Civil, Cardozo só aceitou comandar a Advocacia-Geral da União por lealdade à presidente da República. O que Cardozo não esperava é ter de atuar como advogado de porta de cadeia a defender um saltimbanco de quinta.

O Partido dos Trabalhadores chegou ao fundo do poço, mas o AGU está a defender exatamente o responsável primeiro e maior por essa débâcle. Afinal, Lula sempre soube dos esquemas de corrupção, sem os quais não teria permanecido oito anos como inquilino do Palácio do Planalto.

Nesta sexta-feira (18), com um semblante que mesclava cansaço com preocupação, José Eduardo Cardozo participou de reunião extraordinária do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, convocada para decidir se a entidade descerá do muro e passará a apoiar o processo de impeachment de Dilma Rousseff, a governante que se envolveu em um crime na tentativa de proteger um criminoso.

Ao deixar o encontro, do qual participou por condescendência da OAB, José Eduardo disse aos jornalistas, em Brasília, que “sem crime de responsabilidade provado é impossível ter impeachment”.

No governo decadente e terminal de Dilma Rousseff há um cardápio de crimes de responsabilidade cometidos pela chefe do governo, mas a cegueira de conveniência dos “companheiros” impede que a verdade dos fatos seja contemplada.


Para quem, enquanto membro da oposição estridente de outrora, bradava pela moralidade pública, não sem antes mandar os adversários para a vala da maledicência, Cardozo tem se mostrado uma ode ao avesso do avesso. Defender um governo corrupto como o de Dilma Rousseff, alegando que todos os seus integrantes são probos e bem intencionados, é tarefa para corajosos ou, então, para autistas políticos, que por conveniência não enxergam a realidade.

À Veja, em outubro de 2008, Cardozo reconheceu que “naquele caso [Mensalão do PT], eu não tenho dúvida de que houve situações de ilegalidade com a destinação de recursos financeiros de forma indevida a aliados políticos”.

Mais adiante, em outro trecho da entrevista, José Eduardo emendou: “Nós não podemos esconder esse fato [Mensalão do PT] da sociedade e temos de punir quem praticou esses atos e aprender com os erros.”

A grande questão na seara de Cardozo é que se no passado ele reconheceu com facilidade os crimes cometidos pelos “companheiros”, hoje tem dificuldade atroz para admitir que Dilma, assim como o PT, não tem escolha, a não ser jogar a toalha e aceitar que o jogo acabou. Pela ótica da advocacia, a decisão de Cardozo de lutar até o fim pelo cliente é louvável, mas em algum momento é preciso abrir espaço para a coerência, permitindo que prevaleça a tese de que contra fatos não há argumentos.

O PT, partido de José Eduardo Cardozo, tentou o impeachment de Fernando Collor e se deu bem. Fez o mesmo com Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, mas fracassou. Naquela época, quando o PT engrossava as fileiras da ruidosa oposição, pedir o impeachment do presidente da República fazia parte da democracia, mas nos dias atuais, com o PT no poder central, é golpe. É preciso que Cardozo, um advogado de boa origem acadêmica, coloque a mão na consciência e defina de uma vez o que é democracia. Ou é cumprir a lei e punir os marginais, ou é roubar deliberadamente à sombra de uma causa criminosa.

Voltando às “amarelinhas” da Veja… Perguntado se, diante de uma sucessão de escândalos, ser político é motivo de orgulho, Cardozo respondeu: “As pessoas entram na política por idealismo, por vaidade, por carreirismo e alguns até pela perspectiva do enriquecimento. Enquanto esse sistema prevalecer, aqueles que entram buscando agir de forma séria sofrem um ônus pessoal tão grande que vão deixando a política. É triste se comportar com lisura, com ética, e passar numa praia e ouvir: ‘Ô, mensaleiro!’”.

“Lembro que, certa vez, cheguei em casa uma noite e minha filha, então com 7 anos, me perguntou, chateada: ‘Pai, nosso dinheiro é roubado?’. Fiquei chocado. ‘Como assim, minha filha?’ ‘Na escola, disseram que político é ladrão e que você rouba.’ Por essas e outras, cada vez mais vejo pessoas honestas saindo da política. E cada vez mais tende a aumentar a participação de pessoas desonestas, do crime organizado, de setores sem nenhum compromisso com o interesse público. Sem a reforma política, os éticos correm o risco de ser derrotados definitivamente pelos desonestos”, profetizou Cardozo na ocasião.

É importante reparar nas declarações de José Eduardo Cardozo à revista Veja. Ele tentou fazer uma assepsia no PT, mas não conseguiu, pois o dono do partido entrou para os anais como o responsável pelo período mais corrupto da história nacional. Paciência, a política também tem imprevistos, especialmente quando tenta-se moralizar o ambiente.

Cardozo afirmou que cada vez mais pessoas honestas saem da política. Desde a entrevista à Veja até hoje, passaram-se pelo menos sete anos, mas o ministro da AGU continua na política e no PT. Não significa que ele seja corrupto, mas o PT não passou por uma mudança devastadora a ponto de só abrigar honestos. Fosse assim, Lula não precisaria de um cargo de ministro para escapar de um mandado de prisão.

Lula, o verdadeiro dono do governo, agora em caráter oficial (mas suspenso), é investigado por corrupção, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, associação criminosa, ocultação de patrimônio, entre outros crimes. Mesmo assim, Cardozo, que no passado alertou para o risco de os éticos serem derrotados definitivamente pelos desonestos, continua defendo Lula e o governo mais corrupto da história.

Hoje, a filha de Cardozo é uma mulher adulta e por certo já percebeu como funciona o jeito petista de fazer política. O que é lamentável, pois o pai poderia ter evitado esse dissabor, mesmo que publicamente ela finja aceitar esse desvario bandoleiro que assola o Brasil. Uma década depois, ou mais, se a filha de Cardozo repetisse aquela fatídica indagação, o ministro poderia responder: eu não roubo, mas alguns que defendo roubam “como nunca antes na história deste país”.

É fato que o poder embriaga, envaidece, na maioria das vezes enriquece, mas não há prazer maior do que a coerência plena e a consciência limpa. E a Erenice Guerra mandou aquele abraço, seu dotô!

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