“Panama Papers”: os dribles fiscais do craque argentino Lionel Messi

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De certa forma, tudo parece familiar: “Eu não olho para o que assino. Quando meu pai diz, assino de olhos fechados”, afirmou o jogador argentino Lionel Messi em audiência perante um juiz de instrução espanhol, no rastro da acusação de ter sonegado 4,1 milhões de euros (quase 17 milhões de reais) em impostos.

Assinar às cegas o que uma pessoa próxima coloca sobre a mesa? Outro ícone do futebol escolheu, recentemente, semelhante estratégia de defesa no escândalo em torno da possível compra da Copa do Mundo de 2006: Franz Beckenbauer. Assim como o ex-jogador alemão, Messi também afirma não ter conhecimento sobre práticas ilegais. Mas pode ser que essa estratégia não ajude mais o craque argentino.

Com as revelações do conjunto de documentos batizado de “Panama Papers”, no domingo (3), o melhor jogador de futebol do planeta escorrega cada vez mais em um redemoinho de acusações.

O jornal alemão “Süddeutsche Zeitung” revelou dados abrangentes relativos a empresas de fachada no Panamá, incluindo a até agora desconhecida Mega Star Enterprises. De acordo com os documentos, metade dela pertence a Messi e foi representada, ao menos temporariamente, pela duvidosa empresa de advocacia panamenha Mossack Fonseca. De acordo com o SZ, esse escritório, que administra empresas de fachada, possui ligações com cerca de 20 antigos e atuais ídolos do futebol mundial.

Geralmente, a estratégia é sempre a mesma: um jogador vende seus direitos de imagem a uma empresa fantasma localizada num paraíso fiscal, ligada a ele ou que lhe pertence parcialmente. A empresa de fachada, em seguida, vende seus direitos a patrocinadores, para que promovam seus produtos com a imagem do jogador. As receitas são praticamente isentas de impostos – em favor do jogador, de seus assessores e de outras partes envolvidas.


65 milhões de euros por ano: por que sonegar?

Por que Messi precisa sonegar impostos? Considerados os estimados 65 milhões de euros (266 milhões de reais) que o jogador recebe anualmente, a pergunta é pertinente. Essa é a soma faturada pelo futebolista, eleito quatro vezes o melhor do mundo planeta , segundo a revista especializada France Football – com acordos de patrocínio, merchandising e um salário exuberante no FC Barcelona 36 milhões de euros (147 milhões de reais) por ano.

O pai e agente do jogador argentino, Jorge Horácio Messi, que conseguiu levar o filho até o FC Barcelona, aparentemente elabora com frequência truques com os quais se podem economizar impostos ou burlar o fisco.

Além dos já conhecidos 4,1 milhões de euros sonegados e que Messi já pagou de volta no desenrolar do processo, o jornal Süddeutsche Zeitung revelou uma receita de 10,1 milhões de euros (mais de 41 milhões de reais) em contratos de publicidade – com grandes companhias como Adidas, Danone ou Telefónica – que também foram parar nas empresas fantasmas. E nos “Panama Papers”, também se encontra uma página com a assinatura de Lionel e Jorge Messi, datada de 23 de julho de 2013 – ou seja, bem antes das acusações já registradas contra pai e filho.

“Atos criminosos de ambos os acusados”

Até agora, a estrela do Barcelona não reagiu às acusações, e em sua página na internet também não se encontra nenhuma reação de seu agente. A estratégia de transferir novamente todas as responsabilidades para o pai e de se fazer de inocente pode não funcionar frente à Justiça.

Em 31 de maio, tem início na Espanha um processo em que Messi também está envolvido. O argentino terá de responder perante o tribunal por insistência do Ministério das Finanças espanhol e “indícios de atos criminosos de ambos os acusados [pai e filho Messi]”.

As acusações anteriores poderiam resultar numa multa em dinheiro, mas se os investigadores incluírem as novas informações obtidas nos “Panama Papers”, os dribles fiscais de Messi podem estar próximos do fim. (Deutesche Welle)

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