Quando o processo de impeachment de Dilma Vana Rousseff começou a avançar na Câmara dos Deputados, exibindo chances de ser aprovado no plenário da Casa legislativa, o discurso oficial do governo – e também do PT – era de que se tratava de um golpe parlamentar. No vácuo desse palavrório surgiu o enfadonho mantra “não vai ter golpe”, como se em marcha existisse algo que afrontasse a legislação vigente.
Nos muitos eventos em que o Palácio do Planalto foi transformado em palanque esquerdista contra o impedimento, a própria Dilma não se cansou de afirmar de que é vítima de um golpe. Até para Nova York, onde na última sexta-feira (22) participou de evento na Organização das Nações Unidas, Dilma levou essa fala mentirosa, típica de quem violou a lei e não aceita ser punida.
Se para os esquerdistas verde-louros o cumprimento da lei é golpe, então o Brasil é de fato golpista. E deve ser cada vez mais, pois só assim o País conseguirá retomar a rota rumo ao futuro. Considerando que exista algo de errado na legislação brasileira, que os legisladores tratem de alterá-la, mesmo que para tanto seja necessário convocar uma assembleia constituinte. O que não se pode aceitar é o faz de conta que o PT tenta impor À força, apenas e tão somente porque a legenda tem um projeto criminoso de poder.
Como a tese do golpe não deu certo, apesar da insistência prevalecente de alguns, a nova falação tem o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no centro do novo mantra. Aliás, essa tese ganhou espaço no último dia 17, quando o plenário da Câmara aprovou, 367 votos a favor e 137 contra, a admissibilidade do processo de impeachment de Dilma. Afinal, muitos cometeram o grave equívoco de afirmar que com o impedimento da petista o novo vice-presidente da República seria Cunha.
A exemplo do que explicou o UCHO.INFO em algumas matérias, Eduardo Cunha nem mesmo em sonho tornar-se-á vice no caso de eventual governo Michel Temer, sendo no máximo o primeiro na linha sucessória. Isso significa que o Brasil, se confirmado o impeachment de Dilma, não terá vice-presidente. Sem contar que o mandato de Eduardo Cunha como presidente da Câmara dos Deputados terminará em 31 de janeiro de 2017, se a cassação do seu mandato não ocorrer antes dessa data.
Apesar de todas as provas de que Cunha não será vice de Michel Temer, os petistas arrastaram esse discurso para o Senado, onde o processo de impeachment começa a ganhar velocidade. É natural que os discursos dos aliados do governo sejam contra o impedimento de Dilma, mas que esses ocorram dentro da lógica e do bom senso.
Contudo, não é o que se vê e ouve no Senado. Na tarde desta segunda-feira (25), o senador Humberto Costa (PT-PE), líder do governo na Casa, fez uso da palavra e, da tribuna, recorreu ao mesmo expediente apelativo, mas desta vez dentro da coerência. Desta vez, Costa disse que Cunha será o primeiro na linha sucessória.
Independentemente de qual seja o resultado do processo de impeachment – há votos suficientes para aprová-lo no Senado –, a defesa de Dilma deve pautar-se apenas na conduta da presidente da República, não nos crimes cometidos por Eduardo Cunha, que já está sendo investigado e processado no âmbito da Operação Lava-Jato.
Se a eventual condenação de Cunha no caso do Petrolão está sendo mais demorada do que a de Dilma na esteira das “pedaladas fiscais”, o problema é de cada um, não cabendo aos brasileiros de bem a obrigação de ouvir um sem fim de comparações esdrúxulas e descabidas, apenas porque os petistas não aceitam a derrota e a interrupção do projeto de poder que estava em marcha desde janeiro de 2003.
Como atesta a sabedoria popular, cada dia com sua agonia. De tal modo, Dilma deve encarar o processo de impeachment dentro do que prevê a legislação pertinente, ao passo que Cunha não pode alimentar muitas esperanças, pois sua vez há de chegar. Em suma, o roto não tem como salvar o rasgado. E vice-versa.