Petistas dizem que impeachment é vingança de Cunha, mas cassação de Delcídio é mais do mesmo

delcidio_amaral_1010

O placar da cassação do mandato de Delcídio Amaral – 74 votos a favor e nenhum contra – sinaliza o tamanho do estrago que o ex-senador sul-mato-grossense deve produzir a partir de agora. Se por um lado a decisão do plenário do Senado Federal repercutiu a indignação dos parlamentares com as revelações de Delcídio às autoridades da Operação lava-Jato, por outro o resultado mostra que é grande a preocupação com o que poderá acontecer com os envolvidos no maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão.

A roubalheira que funcionou durante uma década na Petrobras era justificada oficialmente, sem que a opinião pública soubesse a verdade, com a tese do presidencialismo de coalizão, como se isso fosse verdade. Coalizão significa pessoas unidas por uma causa, não um ajuntamento de políticos malandros dispostos a roubar o que aparecia pela frente.

“Nunca antes na história deste país” roubou-se tanto quanto nos treze anos e quatro meses da era petista. Nesse período o Brasil existiu à sombra de uma ação criminosa continuada de fazer inveja às mais experientes organizações criminosas. Isso porque o Partido dos Trabalhadores tinha como meta a perpetuação no poder e o enriquecimento de seus próceres.

Se a Operação Lava-Jato, que só foi possível por causa das denúncias feitas pelo editor do UCHO.INFO e pelo empresário Hermes Magnus, provocou um enorme estrago na organização criminosa que se instalou no poder central, a delação premiada de Delcídio Amaral proporciona uma mudança de status ao conjunto de investigações. Muitos políticos que até então não haviam sido incomodados, agora já perdem o sono.


A cassação do mandato parlamentar de Delcídio cumpriu a legislação vigente no País e o Regimento Interno do Senado da República, mas considerado o delito cometido, que configurou quebra do decora parlamentar, é crime para juizado de pequenas causas. Ao contrário do que mostra a história, o Senado, que em tempos outros viveu a glória no rastro da intelectualidade e sabedoria de seus integrantes, transformou-se em um agrupamento de alarifes experimentados que se escondem debaixo de uma falsa aura de probidade.

Aliás, o próprio presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que no processo de impeachment de Dilma Rousseff faz-se passar por paladino maior da moralidade, é alvo de vários processos no Supremo Tribunal Federal, o que por si só o impede de conduzir qualquer sessão de cassação de mandato, segundo a teoria defendida pelos petistas em relação a Eduardo Cunha.

Levando-se em conta apenas o truque protagonizado por Renan no caso do pagamento das despesas da sua ex-amante, Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento, o caso de Delcídio Amaral é merecedor de processo de canonização. Nos sombrios corredores do Senado grassam crimes capazes de estarrecer até mesmo os mais experimentados corruptos, mas na Casa prevalece o espírito de corpo, até que surja alguém que, no vácuo do abandono, mostre-se disposto a contar o que sabe. Foi o que fez Delcídio Amaral.

Enquanto a tropa de choque de Dilma insiste em afirmar que o processo de impeachment da presidente da República é fruto da vingança de Cunha, alegação que embasa recurso apresentado ao Supremo Tribunal Federal pela Advocacia-Geral da União para tentar barrar o julgamento no Senado, a cassação do mandato de Delcídio Amaral não se deu por outro motivo. O que mostra que coerência é mercadoria em extinção na política nacional.

Na mais rasa interpretação da lei, Delcídio errou e desde a noite de terça-feira (10) paga por seus atos. Lamentavelmente, pelo fato de o processo de cassação ter sido empurrado pelo sentimento de vingança, os parlamentares, assim como as autoridades, não consideraram que o agora ex-senador agiu no caso de Cerveró a mando de Lula e Dilma. O que é muito grave e enseja investigações imediatas e profundas, pois o Brasil não pode ficar refém de uma organização criminosa que se traveste de partido político.

apoio_04