Sem convencer em explicação sobre conversa acerca da Lava-Jato, Jucá deveria deixar o governo

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Reza a Constituição Federal de 1988 que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença condenatória”, preceito constitucional conhecido como presunção da inocência, mas quando o assunto é governo deve prevalecer a tese da mulher de César, a quem, no Império Romano, não bastava ser honesta, mas parecer como tal.

Por ocasião da montagem do governo interino de Michel Temer, o UCHO.INFO afirmou que o peemedebista deveria ser minucioso na escolha dos seus colaboradores, até porque o Brasil precisa de uma administração que não erre, assim como os brasileiros não mais suportam a corrupção sistêmica.

Na edição desta segunda-feira (23), o jornal “Folha de S. Paulo” traz trecho de uma conversa entre Romero Jucá (PMDB-RR), atual ministro do Planejamento, e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, cujo conteúdo sugere uma manobra para conter o avanço da Operação Lava-Jato, que desmontou o maior esquema de corrupção da história, o Petrolão.

Experiente como político e um dos mais ativos defensores do impedimento de Dilma Rousseff, o ministro Jucá tentou explicar, sem convencer plenamente, que o termo “sangria”, usado na conversa com Sérgio Machado, serviu para destacar a necessidade de a economia brasileira dar uma guinada, evitando o fechamento de empresas e o aumento do desemprego.

A explicação, como mencionado acima, não é de todo convincente, mas não se pode afirmar que há nas suas entrelinhas uma clara intenção de “melar” a Lava-Jato. Contundo, considerando a grave crise que enfrenta o País, há de prevalecer o entendimento de que nos bastidores alguns integrantes do novo governo têm o objetivo de cessar as investigações, algo impossível.


Entre o que a conversa representa e o que parece ser, a situação de Romero Jucá piorou sobremaneira nas últimas horas, o que por si só enseja o seu afastamento, até que o assunto seja dirimido. A grande questão é que uma baixa no governo, por esse motivo e a essa altura, representaria a abertura de um enorme flanco para investidas da trupe de Dilma Rousseff, que em vez de cuidar da própria defesa vem criando zonas de confronto com a administração interna.

Antes de chegar ao principal gabinete do Palácio do Planalto, Michel Temer disse que não toleraria qualquer deslize dos integrantes da equipe, assim como não aceitaria o envolvimento dos mesmos em escândalos, inclusive e principalmente no Petrolão. Isso significa dizer que Temer descarta mais da metade do PMDB, partido que está direta ou indiretamente ligado ao esquema de propinas da Petrobras, o que não significa juízo de valor antecipado.

Romero Jucá disse, nesta segunda-feira (23), estar tranquilo em relação às investigações e que não vê motivo para pedir demissão do cargo. Então presidente da República, Itamar Franco decidiu, certa feita, afastar o chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, por conta de denúncias de corrupção. Itamar pediu ao amigo de longa data que deixasse temporariamente o cargo, até a conclusão da apuração, ao mesmo tempo em que deu carta branca à Polícia Federal para avançar com as investigações.

A alegação de Itamar Franco foi simples e lógica: o governo não poderia ser prejudicado pelas denúncias, assim como Hargreaves não poderia ter a biografia manchada. A PF nada encontrou contra Henrique Hargreaves, que retornou ao comando da Casa Civil mais forte do que antes.

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