Impeachment: manutenção do prazo da defesa de Dilma e delação de Odebrecht são mistura explosiva

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Senador pelo PMDB da Paraíba e presidente da Comissão Especial do Impeachment, Raimundo Lira mostrou nesta segunda-feira (6) que não resiste a pressões. Em inesperado recuo, Lira decidiu manter o rito inicial do impeachment de Dilma Rousseff, anulando a própria decisão, tomada na última semana, que reduziu para cinco dias o prazo para a apresentação das alegações da acusação e da defesa. Com isso, o prazo volta a ser de quinze dias para cada uma das partes, o que fará com que o julgamento no plenário do Senado acontece no começo de agosto, não maios no meio de julho.

Raimundo Lira disse que não mudou sua decisão por “pressões externas”, afirmando que a mudança se deu por motivo “absolutamente pessoal”, tendo como base o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, que teve quinze dias para as alegações finais da defesa e da acusação.

“Não posso negar que uma reflexão filosófica me fez involuir em minha decisão. Não me senti confortável em confrontar o cronograma do relator [Antônio Anastasia] e diminuir o prazo. […] Era razoável que a defesa trabalhasse com o precedente de 1992 [do impeachment do Collor]”, explicou Raimundo Lira.

“Quero dizer aqui, aos senhores senadores, mais uma vez que essa decisão foi absolutamente pessoal. Não podemos aceitar aqui qualquer tipo de pressão, porque isso desvirtuaria o trabalho e o bom funcionamento da comissão”, completou o presidente da Comissão.


Esse discurso de reflexão filosófica é típico de pessoas sem firmeza suficiente para comandar um colegiado tão importante quanto a Comissão do Impeachment, onde pressões são inerentes o tema nela tratado.

Depois da postura decidida de Raimundo Lira na última semana, a mudança de decisão soa estranha. Até porque, na outra ponta do imbróglio está a tropa de choque de Dilma Rousseff, que já mostrou disposição para tudo e mais um pouco para impedir a aprovação do processo de impedimento da petista.

Brigar por mais dez dias no prazo das alegações finais foi um preciosismo burro e perigoso da defesa de Dilma, pois as primeiras informações acerca da delação premiada de Marcelo Odebrecht mostram que a presidente afastada certamente terá problemas sérios nas próximas semanas. Sem contar que nesses dias adicionais o advogado José Eduardo Martins Cardozo, que defende Dilma, não conseguirá mudar a opinião dos senadores que integram a Comissão.

Diante do novo cenário que surgiu no final de semana, já há no PT quem defenda a votação do processo no plenário o quanto antes, como forma de evitar a contaminação da legenda a partir do conteúdo explosivo da delação de Odebrecht.

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