No Nordeste, febre chikungunya assusta e já mata mais que a dengue e o Zika vírus

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Transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, a febre chikungunya tem desafiado médicos e pesquisadores a buscar explicações do porquê de uma doença de taxa de mortalidade baixa apresentar saltos fora do padrão normal da doença. O número de mortes confirmadas por no Nordeste está alarmante.

A doença foi motivo confirmado de 45 mortes no 1° semestre na região, contra 35 mortes por dengue e cinco pelo Zika vírus. O número de mortes ainda deve crescer consideravelmente, já que há outras 400 mortes por arboviroses em investigação nestes Estados, todas sem causa confirmada.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Nordeste é a região do Brasil que mais sofre com o vírus. Até o fim de maio, 107 mil pessoas foram infectadas pela febre chikungunya – a região tem 87% das infecções registradas em todo o país.

O número de pessoas infectadas no Brasil somente este ano já é quase nove vezes maior que as registradas em todo o ano passado: 13 mil.

Assim como dengue e o Zika vírus, não existe um tratamento específico para chikungunya. Os sintomas são tratados com medicação para a febre e dores articulares.

A dispersão da febre chikungunya pelo Nordeste tem deixado um rastro de adultos e idosos com dores crônicas graves que sobrecarrega os serviços de saúde, além de um número ainda não explicado de mortes. Os boletins das secretarias de saúde estaduais trazem aletas da gravidade da situação.

No primeiro semestre deste ano, o número de mortes por arbovirores cresceu 426% no Rio Grande do Norte, que é o estado com maior incidência de chikungunya do País.

Os índices de mortes apontados pelos Estados apontam para mais vítimas fatais entre os infectados por chikungunya que entre os infectados por dengue.


Em Pernambuco, Estado líder em mortes pela doença na região, o índice de mortalidade de chikungunya é seis vezes maior que o da dengue. Até junho, foram sete mortes confirmadas de dengue para 19.304 pessoas infectadas (média de 0,4 morte para mil casos). Já no caso da chikungunya, são 11.273 casos confirmados de infecção, com 26 mortes: 2,1 para cada mil casos.

O índice é maior do que o apresentado na literatura médica. A letalidade de dengue nas Américas em 2014 foi de 0,7 óbitos por mil casos, enquanto o de chikungunya era de 0,2 por mil casos.

O infectologista Kleber Luz, integrante do grupo de cientistas do Ministério da Saúde que investiga o problema, alerta que essa taxa de mortalidade “aparentemente” maior para a febre que no caso de outras arboviroses intriga os especialistas.

Para o Ministério da Saúde, ainda é preciso investigar com mais detalhes as mortes por chikungunya “para que seja possível determinar se há outros fatores associados, como doenças prévias, comorbidades, uso de medicamentos, entre outros”.

O especialista ainda afirma que o Ministério da Saúde vai debater um protocolo para investigar o problema. Ele diz que, no final de julho, um grupo da comunidade científica deve se reunir em João Pessoa para essa discussão.

Luz indica que há duas teorias mais prováveis para as mortes. “Temos vistos alguns casos em que o vírus tem invadido o sistema neurológico, causando encefalite grave, e em crianças há um quadro clássico com múltiplas lesões de pele, mas isso já era esperado. Uma outra possibilidade é que, no Brasil, a venda é livre de todos os remédios, com exceção dos antibióticos; ao adoecerem e por terem muita dor, os pacientes talvez estejam usando anti-inflamatórios e corticoides”, ressalta.

O uso de remédios pode, ao mesmo tempo, tornar a doença mais grave e comprometer a imunidade dos infectados. “É como se deixasse o caminho livre para o vírus matar”, explicou o infectologista.

A transmissão da febre chikungunya foi identificada pela primeira vez no Brasil em 2014. Os sintomas da doença são: febre acima de 39 graus e de início repentino e dores intensas nas articulações de pés e mãos. Pode ocorrer, também, dores de cabeça e nos músculos e manchas vermelhas na pele. Cerca de 30% dos casos não chegam a desenvolver sintomas.

Contra o avanço da doença e reações mais graves, o Ministério da Saúde já formulou o Guia de Manejo Clínico, com orientações sobre o diagnóstico precoce e manejo para profissionais de saúde.

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