Para chegar à presidência da Câmara com o apoio do PT, Maia se expôs à maldição do “514”

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Presidente do Senado Federal, o peemedebista alagoano Renan Calheiros disse que a vitória de Rodrigo Maia, na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, mostra que “a boa política não morreu”. Considerando que Calheiros jamais soube o que é boa política, sua declaração não merece crédito. Ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, ao falar da vitória do filho, disse que Rodrigo “soube ouvir desde pequeno”. Como um pai dificilmente fala mal do filho, César Maia “choveu no molhado”.

Entre o que falam os mais eufóricos sobre o triunfo de Rodrigo Maia e o que mostram os bastidores da eleição há uma enorme distância. A tese de que “a boa política” sobreviveu é mais uma balela em meio a tantas que sobram no Parlamento nacional. Sobre a longeva capacidade de ouvir do novo presidente da Câmara, está-se diante de uma verdade. A única questão é saber o que Rodrigo Maia gosta de ouvir.

A política brasileira está longe de ser uma ciência exata, por isso abriga muitas bizarrices, mas ultrapassa as fronteiras do bom senso acreditar que a esquerda nacional apoiou de forma desinteressada a candidatura de Rodrigo Maia, que desde o primeiro momento defendeu o impeachment da presidente afastada.

Se petistas e outros esquerdistas trabalharam contra a candidatura de Rogério Rosso (PSD-DF), candidato de Eduardo Cunha, não haveria motivo para apoiar um político que sempre fez oposição ferrenha aos governos do PT, assim como seu partido, o Democratas, trabalhou intensamente pelo afastamento de Dilma. De igual modo, é importante lembrar que, em seu primeiro governo, Lula decretou intervenção federal na saúde pública do Rio de Janeiro à época em que César Maia era prefeito. Fanfarrice política tipicamente petista, mas que prejudicou a imagem do então alcaide carioca.

Considerando que na política nacional inexistem coincidências e que nada acontece longe de interesses escusos, a chegada de Rodrigo Maia ao comando da Câmara tem detalhes que a maioria dos brasileiros desconhece. Para ter o apoio de petistas e outros comunistas, Maia aceitou nomear Lourimar Rabelo como secretário-geral da Mesa Diretora, uma espécie de “sombra oficial” do presidente da Casa.


Para quem não sabe, Rabelo é funcionário da Câmara e desde a época em que o ex-petista André Vargas Ilário ocupava a vice-presidência da Casa alimentava o sonho de chegar à Secretaria-Geral da Mesa. Com a queda de Vargas, que foi investigado, preso e condenado na Operação Lava-Jato, o sonho de Lourimar Rabelo virou um pesadelo.

Homem de confiança do deputado federal José Nobre Guimarães (PT-CE), prócer petista que integra a tropa de choque de Dilma Rousseff e acata as ordens de Lula, o lobista-palestrante, Lourival Rabelo é conhecido na Câmara como “514”. Isso porque, enquanto chefe de gabinete de André Vargas, cabia a ele a tomada de muitas decisões de responsabilidade do vice-presidente.

Não se pode afirmar que Lourimar Rabelo seja desprovido de competência para estar como secretário-geral da Mesa, mas sua chegada ao cargo é estranha e aconteceu na esteira de negociatas das mais absurdas. O que permite pensar que Rodrigo maia é mais do mesmo, no melhor estilo de lobo em pele de cordeiro, e que o Brasil não mudará tão cedo.

Contudo, Maia deveria considerar que Lourimar Rabelo, o “514” – o apelido se deve ao fato de que ele age como se fosse deputado, – é conhecido por ser um tremendo pé frio. Rabelo já assessorou o também petista Cândido Vaccarezza, ex-deputado federal por São Paulo e que um dia sonhou em chegar à presidência da Casa. Sob a orientação do então chefe de gabinete, Vaccareza concedeu uma estabanada entrevista, o que lhe rendeu o fim do sonho de comandar a Câmara dos Deputados. Na ocasião, a disputa pela presidência da Câmara foi vencida pelo petista gaúcho Marco Maia, que no cargo teve um desempenho altamente questionável.

Depois de longa espera, Lourimar Rabelo fez do sonho uma realidade negociada nos subterrâneos da política, situação que pode transformá-lo em Cavalo de Troia petista na seara democrata de Rodrigo Maia. Se o novo presidente da Câmara acredita na tese de que bruxas existem não se sabe, mas o melhor nesse momento de incertezas é chamar uma mãe de santo para sessão de descarrego no gabinete presidencial. Afinal, o “514” está solto e poderoso. Saravá!

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