Quinze anos de UCHO.INFO: 5.479 dias de jornalismo independente em defesa do Brasil

(*) Ucho Haddad

ucho_24Em 17 de julho de 2001, há exatos quinze anos, o sonho virou realidade. O mais importante projeto da minha vida ganhou corpo, estreou nesse universo incrível que é a internet. O desejo era informar com responsabilidade, ancorado no cais da verdade e tendo como bandeira única a defesa do Brasil e dos brasileiros. E todos os que moram onde desfralda o verde-louro desta flâmula.

Longe de casa – e da “pátria amada, idolatrada, salve, salve” –, entre o hospital (nele fui assíduo e obediente paciente) e a universidade (que frequentei como misto de intruso e pesquisador), encontrei tempo e coragem para um desafio que ia além da vida. Aquele mundo novo que se desnudou impôs-me a superação. Aliás, a auto-superação diária é a minha maior e primeira obrigação.

Na mesma cena, o desconhecido proporcionou um sem fim de ideias, de desafios. Permitiu descobrir oportunidades várias para exercitar de um jeito diferente a profissão que escolhi há quarenta anos, o oficio que acalenta minha alma a todo instante: o jornalismo. Oportunidades que se renovam a cada minuto, que me fazem acreditar ser possível fazer mais, fazer melhor, fazer pelo Brasil.

Aos olhos desconfiados e invejosos de muitos era pouco, quase nada, para mim representava muito mais do que um projeto profissional. Era um exercício supremo de cidadania, a esperança de tempos melhores. Mesmo que esses tempos demorassem a chegar, como ainda não chegaram. Mas estar no caminho certo é um grande alento, uma doce vitória, é confiar naquilo que um dia ultrapassou os limiares do desejo.

Sabia que o caminho seria longo, mas sequer imaginei chegar até aqui. Sabia que o caminho seria sinuoso – cheio de curvas, atalhos e armadilhas –, mas tinha certeza de que o objetivo era alcançável. Em momento algum sonhei escrever tanto quanto escrevi. Faria tudo outra vez se preciso fosse, exatamente igual, com os mesmos erros e acertos. Apenas porque nesse percurso cada detalhe foi um grande presente, um prêmio. Ciente sempre estive de que podia mais, que exigir de mim era a receita mais correta. Não me canso dessa cobrança que extasia, não descanso diante do compromisso assumido. Quero escrever, preciso escrever.

Escrevo não em busca de láureas, de louros… Prêmio maior para quem escreve é ter quem leia o que foi escrito. Isso não me falta, pois a generosidade divina tem sido maiúscula nesse quesito. Mas obriga-me a ser melhor a cada dia, o dia todo. Escrevo, sim escrevo. Escrevo, nada mais que isso. Escrevo porque penso, por isso existo. Aliás, só existo porque escrevo. E não saberia existir longe do ofício que me permite ser. Sim, ser como sou. Ser livre, pensar. Ser reflexivo, analisar. Ser coerente, discordar. Ser ponderado, contestar. Ser justo, ser sempre, ser…

Do ontem até hoje, daquele dia até agora, a longa estrada foi árdua. Ainda é, passados esses incríveis 5.479 dias. Desistir é a palavra que por sorte falta no meu dicionário, temor é algo que desconheço. Não faço jornalismo de encomenda, não aceito tergiversar.

Faço jornalismo… Assim fiz de lá a cá, continuarei fazendo até quando Deus quiser. Jornalismo opinativo e independente em uma democracia extremamente jovem é desafio constante, perigo na certa, surpresas em profusão. Isso porque à ação do tempo ainda resistem parcas pessoas que creem na impunidade, no vale-tudo, no “você sabe com quem está falando?”, nas ameaças e nas intimidações. Difícil foi enfrentar esse ranço autoritário, a postura bandoleira e decadente de quem crê estar acima da lei, de tudo, de todos.

Se do nada surgiu o inesperado, o tudo alimenta o desejo maior: ver o Brasil livre, justo e na rota da dignidade. Fã incondicional do planejamento, muitos foram os tropeços nessa seara que tanta exatidão exige. Ademais, sou o melhor produto dos meus próprios erros. Que bom que fui assim, que continuo assim. Minha fobia primeira é aprender, saber, descobrir o novo.

Nesses longos e rápidos quinze anos, jamais titubeei diante da necessidade de abandonar os direitos e ser apenas deveres. Simplesmente fui dedicação total, assim faço até hoje. Por isso faço todo dia tudo sempre igual, sempre de um jeito diferente. Faço como se estivesse começando no universo do jornalismo, com o mesmo entusiasmo de sempre, a mesma empolgação de uma vida inteira, com amor e devoção ao ofício escolhido.

Nessa empreitada tive parceiros incríveis, aliados imprescindíveis. Muitos se foram, outros permaneceram. Alguns disseram adeus, outros, até logo. Todos ficaram na essência da alma, no cerne do sonho que de meu tornou-se de todos os brasileiros de bem. Sempre estarão no meu pensamento, terão minha eterna gratidão.

Encontrei desanimados, trombei com invejosos, enfrentei maledicentes. Sofri ameaças, colecionei adversários, conquistei inimigos. Mantive a coerência, cultivei a parcimônia, adormeci na consciência tranquila. Mas a vida é feita de oximoros, até porque o equilíbrio das forças é o que faz a vida. Por isso encontrei quem acreditasse em nosso sonho, quem apoiasse nosso projeto, quem cerrasse fileira ao nosso lado, quem estendesse a mão amiga em situações extremas. Nessa alquimia patriótica misturei de tudo um pouco, do amor próprio ao ódio alheio, da obstinação castiça às certezas duradouras, das dúvidas de sempre às superações costumeiras.

Hoje, quinze anos depois, tenho a sensação do dever cumprido, mesmo sabendo que há muito mais por fazer. E continuarei fazendo o máximo para que tudo termine bem, do jeito que o Brasil e os brasileiros merecem. Entre palavras e escritos, espero aqui estar dentro de outros quinze anos. Antes disso, porém, preciso garantir a continuidade do UCHO.INFO, por muitos quinze anos, sem a minha presença. Humanos não são eternos, assim como não sou.

Levar adiante, para muito longe, o sonho de um que virou a realidade de muitos é possível por uma só razão. A notícia nos move, o leitor é a nossa razão de existir. A peça mais importante desse quebra-cabeça é aquele que lê o que escrevemos para mudar, para que haja justeza, para que brote entendimento, para que floresça esperança, para que a melhor notícia seja um amanhã diferente e melhor.

A única palavra que aqui e ora cabe é agradecimento. Muito obrigado aos que criticaram, aos que apoiaram. Aos que duvidaram, aos que colaboraram. Muito obrigado aos que torceram contra, aos que acreditaram. Aos que ameaçaram, aos que estiveram ao lado. Muito obrigado aos que escreveram sem parar, aos que sempre leram. Muito obrigado aos despeitados, aos que confiaram. Muito obrigado a todos, muito obrigado a cada um.

O UCHO.INFO é o sonho de um, é a realidade de todos. É tudo de mim, é um pouco de cada um de vocês. Muito obrigado, sempre!

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.

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