A pergunta que não quer calar: Quando Lula será preso?

(*) Percival Puggina

(Foto: Nadia Raupp Meucci)
(Foto: Nadia Raupp Meucci)
Essa pergunta me é feita onde quer que eu vá. Deve acontecer o mesmo com vocês que ora me leem. É como se experimentássemos um daqueles momentos em que a natureza fica estática, o vento para, e os seres vivos se aquietam escutando ancestrais experiências. Percebe-se que algo relevante vai acontecer, mas tarda. Quando Lula será preso? Já houve fins de semana em que as apostas subiram de nível. Qualquer movimentação mais intensa na PF de Curitiba abre caminho para especulações do tipo – “Desta vez vai!”.

Surpreende a muitos a captura de peixes de bom tamanho, daqueles que autorizam tirar retrato para registrar o feito, enquanto o realmente grandão, o líder do cardume, continua nadando, em pouco espaço, bem contido, mas nadando.

Na operação Lava Jato, Lula é a joia da coroa. É aquilo que os franceses chamam pièce de résistance quando querem se referir à parte mais significativa de um evento ou ao prato principal de um cardápio. Atos e pratos assim têm hora certa de acontecer e nunca é na abertura ou no meio da apresentação ou do serviço.

Por outro lado, o trabalho da força-tarefa instalada em Curitiba usa intensa e indispensavelmente a colaboração premiada. É o preço a pagar pela desarticulação da rede criminosa, apuração dos feitos e das provas para gerar processos que levem à condenação dos culpados. É algo que necessariamente se desloca de baixo para cima na estrutura da organização criminosa. Quando Sérgio Machado vai para prisão domiciliar em sua mansão, essa “condenação” é um prêmio por agregar informações importantes para a investigação no andar superior. E assim sucessivamente.

A prisão de Lula, por outro lado, exige um pacote de provas que desautorizem reações como as que se seguiriam à sua prisão por motivos que não viessem a ser reconhecidos como graves, densos e suficientemente comprovados. Neste momento, por exemplo, estão em curso as colaborações premiadas do ex-marqueteiro petista João Santana e sua mulher. Segundo o site Diário do Poder, eles “já assinaram o documento que dá início ao processo formal de colaboração premiada. Mônica chegou a tentar o acordo individual em abril, mas os termos não foram aceitos pelos procuradores. O acordo com o casal é considerado ‘a delação do fim do mundo’, em razão das fortes ligações de João Santana com os ex-presidente Lula e Dilma Rousseff, cujas campanhas eleitorais comandou.”

E mais, os dois marqueteiros não são os únicos detidos com intimidade no centro do poder que hora se dissolve no Brasil. Ontem (20/07), Renato Duque autorizou seu advogado a entabular negociações com o MPF.

(*) Percival Puggina é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de “Crônicas contra o totalitarismo”; “Cuba, a Tragédia da Utopia”, “Pombas e Gaviões” e “A Tomada do Brasil – Pelos maus brasileiro”. Integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

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