Data do julgamento de Eduardo Cunha leva a oposição a sentir saudade do veneno de outrora

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A decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de marcar para 12 de setembro a votação em plenário do processo de cassação de Eduardo Cunha atendeu a um pedido do Palácio do Planalto, mas contrariou a oposição, que afirma que o agendamento é fruto de pressão do governo interino de Michel Temer. É notório que os partidos de esquerda querem a cabeça de Cunha como forma de se vingar do impeachment de Dilma, mas petistas e seus quejandos nada têm a reclamar.

O desejo dos palacianos era que a sessão que decidirá o futuro de Cunha acontecesse depois do julgamento do impeachment de Dilma Rousseff, marcado para começar no dia 25 de agosto, pois o ex-presidente da Câmara sabe muito sobre escândalos de corrupção e pode causar uma hecatombe política antes da hora.

É fato que o caso Cunha já extrapolou todos os prazos e postergar o julgamento final é mais um absurdo nessa epopeia bandoleira, mas a oposição experimenta um pouco do próprio veneno. Nos últimos treze anos, os agora oposicionistas fizeram do Congresso Nacional uma agência de despachos dos governos petistas (Lula e Dilma), reflexo das mesadas criminosas e da roubalheira nas estatais, cujo dinheiro comprou a consciência e os votos dos parlamentares que se “venderam” sob a desculpa esfarrapada de que os fins justificam os meios.

Há muito ultrapassou as raias do aceitável a forma como a política nacional vem sendo conduzida ao longo das últimas décadas, produzindo prejuízos incalculáveis à nação. A parcela de bem da sociedade tem o dever de exigir uma radical mudança, sob pena de o banditismo continuar avançando sob outra cangalha ideológica. E sem perspectiva de mudança, mas com a conhecida dança de cadeiras.


É importante lembrar que no Brasil – em outros países deve acontecer o mesmo – não se faz política sem muito dinheiro, sendo que os recursos na maioria das vezes têm origem ilícita (leia-se corrupção). No momento em que um candidato embarca em uma campanha eleitoral que custa verdadeira fortuna (uma campanha presidencial com chance de êxito custa US$ 400 milhões), não há como a população esperar outro cenário, que não o da roubalheira institucionalizada.

Se por um lado o candidato não coloca a mão no bolso – os partidos entram com a menor parte –, quem o faz quer, em algum momento, a contrapartida. É nesse exato ponto que surge a corrupção como forma de financiamento eleitoral. Quando essa criminosa roda da fortuna começa a girar, pará-la de supetão não é tarefa fácil.

Mudar esse quadro é possível, desde que a Justiça Eleitoral abandone o “faz de conta” e abra os olhos para a realidade. As prestações de conta enviadas pelos candidatos nem de longe traduzem a verdade em termos de gastos. Porém, os Tribunais Eleitorais acabam chancelando contas de campanha que são verdadeiros enredos de filmes policiais.

Para não fugir do tema central desta matéria, Eduardo Cunha custeou, em 2014, algumas dezenas de campanhas eleitorais Brasil afora. O que ao longo de quase dois anos reforçou sua conhecida soberba política. Resta saber o que Cunha fará quando perder o mandato parlamentar e o respectivo foro privilegiado. Ou cai atirando na sequência da cassação ou aguarda algumas semanas para começar a negociação de um acordo de colaboração premiada. Tudo sob a batuta do juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava-Jato.

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