Experimentando a primeira semana como presidente da República efetivo, o peemedebista Michel Temer parece não se incomodar com a imagem de adepto do “faz de conta”, teoria obtusa que serviu para sua antecessora levar o Brasil à vala do caos generalizado.
No momento em que o país clama por medidas econômicas emergenciais e certeiras, Temer sinaliza com a possibilidade de enviar o projeto de reforma da Previdência somente após as eleições de outubro próximo. Isso porque alguns partidos aliados querem escapar dos efeitos negativos da medida que já é considerada impopular.
Ao Brasil mergulhou na mais profunda crise econômica de sua história, sendo que a operação de resgate exigirá doses de esforço por parte da população. De nada adianta enganar a opinião pública em relação a essa inevitável situação, pois o Palácio do Planalto não é um almoxarifado repleto de varinhas de condão. Se os candidatos às eleições municipais não têm competência para disputar um pleito à sombra da realidade, que arrumem um trabalho.
Com a chance de Temer retardar o envio do projeto de reforma da Previdência, o PSDB já se rebelou contra o Palácio do Planalto. A questão nesse ponto é mera fogueira de vaidades, pois o PSDB, que ocupa a liderança do governo no Senado, não foi comunicado sobre a decisão do presidente da República.
“Se optaram por enviar após a eleição, paciência. Eu preferia discutir esse assunto o mais rápido possível”, afirmou o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, após reunir-se em São Paulo com o governador Geraldo Alckmin, que ratificou a cobrança.
O discurso de Aécio e o endosso de Alckmin não passam ingredientes de um discurso combinado para alavancar os candidatos tucanos, que querem se apresentar ao eleitorado como a derradeira tábua de salvação. Em suma, é um recado para que o Palácio do Planalto assuma de vez o compromisso de promover o tão esperado ajuste fiscal, pois do contrário o PSDB desembarcará da chamada base aliada.
“O governo deve ter suas razões (para o adiamento), mas não pode sinalizar para a perda da prioridade do ajuste fiscal”, afirmou Aécio Neves em conversa com jornalistas no Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista.
Mais uma vez a classe política dá demonstrações inequívocas de que os pleitos da população e as necessidades do País são assuntos secundários, prevalecendo os interesses dos políticos e dos partidos.
O que importa no momento é a urgência com que devem ser discutidos e aprovados os projetos destinados a minimizar os efeitos da crise e a recolocar o País na trilha do crescimento. O que deve demorar alguns anos, por isso quanto antes começar a discussão, melhor, pois o tempo urge.
Ademais, se o governo não imprimir celeridade na reforma fiscal, todo discurso direcionado aos investidores será considerado conversa fiada com chancela oficial. Michel Temer assumiu interinamente a Presidência da República no embalo de um projeto de governo que recebeu o pomposo nome de “Ponte para o Futuro”. Com a lerdeza atual, a tal ponte no máximo chegará à condição de pinguela rumo ao caos.