Na interinidade da Presidência, Rodrigo Maia acredita ser o “Furacão na Botocúndia” e repreende ministro

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Se o presidente Michel Temer não der um murro na escrivaninha presidencial e mostrar quem de fato manda, o governo corre o risco de se transformar em uma espécie de “casa de Noca”. Isso porque há no entorno do presidente da República muito mais candidatos a cacique do que índios dispostos a cumprir a tarefa rasa. E em qualquer taba minimamente desorganizada esse cenário já teria produzido uma troca de flechadas.

Como tem afirmado o UCHO.INFO, governo que tem um superministro está fadado a acabar mal. É o caso de Eliseu Padilha, que deve sonhar à noite que dorme com a faixa presidencial. Padilha deveria espelhar-se em Henrique Hargreaves, o “homem forte” do governo Itamar Franco, que mandava como ninguém, mas com a conhecida mineirice sabia seu lugar. E jamais deu qualquer declaração que tivesse colocado em xeque o poder do amigo Itamar.

Não bastasse o egocentrismo de Padilha, o presidente sofre com os rompantes verborrágicos de Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo, que na terça-feira (20) defendeu a anistia aos crimes pretéritos de caixa 2. Sandice típica de um parlapatão conhecido, que acabou sendo desmentido por Michel Temer, direto de Nova York. Questionado por jornalistas sobre a declaração do ministro, Temer disse que a tal anistia não era uma boa ideia.

Por causa da ausência de um vice-presidente, quando Michel Temer ausenta-se do País quem assume a Presidência de forma interina é o primeiro na linha sucessória, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados.

Na primeira vez em que trocou a presidência da Câmara pela da República, quando Michel Temer viajou à China, Maia comportou-se bem, mas parece ter tomado gosto pela interinidade. Enquanto Temer parolava em Nova York com investidores internacionais, no Brasil o interino passava uma carraspana pública no ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, que na quarta-feira (21) afirmou que a reforma trabalhista ficará para o segundo semestre de 2017.


É fato que a declaração de Nogueira foi um tiro no pé, mas não se pode esquecer que o governo do PMDB sofre de graves problemas de comunicação. Aliás, não é primeira vez que o ministro do Trabalho se envolve em polêmica desde que chegou ao cargo. Anteriormente, Ronaldo Nogueira levou um pito do próprio presidente da República pela forma equivocada como falou sobre uma possível flexibilização da jornada de trabalho, que em determinados casos poderia chegar a 12 diárias, sem estourar o limite semanal de horas trabalhadas estabelecido pela CLT.

Logo após Nogueira anunciar que a controversa reforma trabalhista ficaria para o próximo ano, Rodrigo Maia desautorizou o ministro durante palestra proferida no evento promovido pelo “Movimento Brasil Competitivo”. Ao dirigir a palavra aos participantes do evento, Maia disse: “Hoje o ministro do Trabalho disse que a reforma trabalhista vai ficar para o segundo semestre de 2017. Não deveria ter tratado da reforma trabalhista, porque foram duas notícias ruins: a forma como ele comunicou antes e o anúncio hoje de que deixou tudo para o segundo semestre do ano que vem. Às vezes, é melhor falar pouco e produzir mais”.

A interinidade de um presidente exige que o mesmo mantenha o governo em ordem e sob controle, mas não dá o direito de passar pito em ministros publicamente, por maior que seja o erro cometido. Recomenda a boa governança que aquele que errou seja chamado para uma conversa reservada, quando os fatos são esclarecidos.

Ademais, a atitude de Rodrigo Maia colocou sobre o prato da balança a autoridade de Michel Temer, a quem cabe dar broncas em assessores e, caso necessário, demiti-los. Em suma, Temer parece desconhecer o significado dos vernáculos “vocação” e “autoridade”.

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