Morre em Milão, aos 90 anos, o dramaturgo Dario Fo, ácido crítico dos poderosos e da Igreja

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O governo da Itália anunciou nesta quinta-feira (13) a morte do ator e dramaturgo Dario Fo, vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 1997. Ele estava internado em hospital de Milão por causa de complicações pulmonares.

Matteo Renzi, premiê italiano, enviou suas condolências durante a manhã de quinta-feira, ainda madrugada no Brasil. “A Itália perdeu um dos grandes protagonistas do teatro, da cultura e da vida cívica de nosso país”, disse.

Dario Fo apoiava o partido de oposição “Movimento 5 Estrelas”, do comediante Beppe Grillo, uma popular sigla antissistema que atualmente governa a cidade de Roma. O dramaturgo era visto como uma das referências intelectuais do grupo político. “Um gigante de cultura italiana nos deixou. Ele era o guia moral do 5 Estrelas”, afirmou Carla Ruocco, parlamentar do movimento.

Tendo como adversários prediletos os políticos e a Igreja, Dario Fo notabilizou-se pela sátira política e a crítica ácida ao clero. Em entrevista ao semanário alemão “Die Zeit”, em 2013, o dramaturgo, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura (1997), disse que “a obra mais importante de nossa cultura é a Divina Comédia”, de Dante Alighieri.

“A sátira ainda está em todos os lugares. Um povo sem o gosto para esse gênero literário é um povo morto”, completou o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura (1997).


“Eu sou um palhaço que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura”. Assim Dario Fo gostava de se apresentar. O autor e humorista italiano gostava de brincar com a mais alta distinção literária, surpreendendo muitos críticos e desagradando políticos locais – para deixar claro em seguida que os humoristas sempre foram os verdadeiros intelectuais da Itália.

A morte de Dario Fo coincidiu com o anúncio do vencedor do Nobel de Literatura deste ano. O prêmio foi entregue durante a manhã, no horário de Brasília, ao músico Bob Dylan.

Detenções em pleno palco

Devido às suas ideias artísticas e políticas, ele foi muitas vezes para a cadeia. Em 1973, a sua esposa chegou até mesmo a ser estuprada por uma quadrilha neofascista. Fo teve de enfrentar 47 processos.

Diversas prisões aconteceram em pleno palco, mas o dramaturgo jamais deixou-se calar. Pelo contrário, não poupou o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Em seu absurdo minidrama “L’anomalo bicéfalo” (“O bicéfalo anômalo”, em tradução livre), Dario fez com que Berlusconi implantasse metade do cérebro de Putin, em 2004. E por questões óbvias isso lhe causou problemas.

“Nós somos palhaços. Estamos convencidos de que no riso está a mais alta expressão da dúvida, o principal instrumento da razão”, afirmou o autor de peças populares que sempre se via como defensor dos fracos e atacava os poderosos de todas as formas possíveis.

Muitas vezes, ele subia ao palco com sua esposa, Franca Rame, com quem foi casado de 1954 até a morte dela, em 2013. Fo gostava de dizer que a bela atriz, proveniente de tradicional família do teatro, lhe ensinou a dramaturgia “de improviso”. (Com Deutsche Welle)

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