Depois de ser criticado por tergiversar sobre eventual prisão de Lula, Temer coloca “água na fervura”

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Assumir o comando do governo de qualquer país não é tarefa fácil, por mais desenvolvida e estável que seja a nação. Essa missão torna-se ainda mais árdua se o país em questão for o Brasil, cuja economia está em franca recessão, fruto da incompetência que marcou os treze anos da era petista. A situação torna-se espinhosa quando na contramão e em marcha contínua existe uma investigação sobre corrupção sistêmica, como é o caso da Operação Lava-Jato.

Presidente da República por acaso e ainda sobrevivendo no universo da política por conta da conhecida habilidade que o meio exige, o peemedebista Michel Temer sabe que o furacão da Lava-Jato avança com celeridade na direção do Planalto Central e pode alcançá-lo a qualquer momento, a depender do acordo de colaboração coletiva firmado pela Odebrecht como a força-tarefa da Operação Lava-Jato, que conta com a delação de aproximadamente oitenta executivos e ex-funcionários. Ou seja, um tsunami deverá atropelar em breve a classe política nacional.

Depois de afirmar que uma eventual prisão de Luiz Inácio da Silva, o dramaturgo do Petrolão, provocaria instabilidade no País, o que foi classificado pelo UCHO.INFO como advocacia em causa própria, Michel Temer minimizou a afirmação feita na última segunda-feira (14) no programa Roda Viva, da TV Cultura.

Ciente de que há o risco de seu nome ser mencionado em alguma das delações premiadas que ainda não foram divulgadas, Temer seguiu a liturgia do cargo ao não polemizar com Lula, mas na verdade balbuciou palavras que, no primeiro momento, poderiam beneficiá-lo. Isso porque a mensagem passada tinha endereço certo: a própria Operação Lava-Jato e o Judiciário. Em suma, Temer arriscou mandar um recado para que o deixasse de fora dessa implacável caçada aos corruptos. O que não significa que ele seja culpado.

Depois de ver suas declarações rechearem críticas de todos os naipes, como a publicada pelo UCHO.INFO, Michel Temer preferiu colocar água fira na fervura. Em entrevista ao jornalista Josias de Souza, do UOL, o presidente da República remodelou sua fala a respeito de eventual prisão do ex-metalúrgico: “Se a prisão vier depois de uma condenação, não haverá o que objetar”.


Ao jornalista, Temer fez questão de frisar que sua declaração no “Roda Viva” era uma referência eventual prisão (preventiva ou temporária) de Lula sem sentença condenatória. “Evidentemente, se lá para a frente houver uma condenação judicial e Lula for detido em função dessa condenação, acabou”, disse o peemedebista.

“O que se fala muito hoje é que o Lula pode ser preso pelo Moro de forma temporária ou preventiva. Na entrevista, entendi que a pergunta era sobre isso. Respondi: se ele for processado, isso deve seguir com muita naturalidade. Agora, se ele for preso – eu quis dizer neste momento –, isso cria problema para o governo, porque alguns movimentos sociais que fazem objeção ao meu governo vão sair às ruas. Hoje, depois de seis meses, está passando um pouco aquela onda do ‘Fora, Temer’. Só agora está começando a passar. Se prender o Lula, o que vai acontecer? Essa foi a minha resposta, com muita franqueza: vai criar problema, instabilidade. Mas, evidentemente, se lá para a frente houver uma condenação judicial e Lula for detido em função dessa condenação, acabou.”

Jurista conhecido e autor de 41 livros, a maioria sobre Direito Constitucional, Michel Temer sabe as condições em que se dá uma prisão temporária ou preventiva. No caso de Lula, o ex-presidente já deveria estar atrás das grades, caso a força-tarefa da Lava-Jato aplicasse com isonomia as regras que levaram ao cárcere muitos dos envolvidos no maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão.

Considerando que a corrupção sistêmica devastou o País e que a extensa maioria dos brasileiros aguarda a prisão de Lula, tergiversar sobre o tema só pode ser interpretado como uma tentativa desesperada de alguém que teme pelo pior. Ate porque, no Brasil não se faz política sem o dinheiro da corrupção, infelizmente. E que Michel temer e seus quejandos se preparem, pois a Operação Lava-Jato é só o começo de uma faxina que demorará décadas.

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