Autoridades brasileiras e portuguesas finalmente descobriram o caminho do milagre da multiplicação, levado a cabo pelo partido dos Trabalhadores durante mais de uma década e que instalou no Brasil a “corruptocracia”.
Uma investigação do Ministério Público português – no âmbito da Operação Marquês, que levou o ex—primeiro-ministro à prisão – está debruçada sobre mesada de 30 mil euros (cerca de R$ 100 mil) paga a José Dirceu entre março de 2011 e julho de 2014.
O objetivo do pagamento era usar a influência de Dirceu, o “impoluto”, junto ao governo brasileiro em favor da Portugal Telecom, à época a maior empresa de Portugal e candidata a adquirir uma fatia da operadora Oi/Telemar. As acusações são do procurador Rosário Teixeira, que atua na Operação Marquês.
Dois veículos midiáticos portugueses – revista “Visão” e o jornal “Observador” – tiveram acesso ao conteúdo do interrogatório do ex-banqueiro Ricardo Salgado, acusado de pilotar um intrincado esquema de corrupção na Portugal Telecom, que tinha como principal acionista o hoje arruinado Banco Espírito Santo (BES).
A atuação de José Dirceu em favor da Portugal Telecom já era largamente mencionada pelas autoridades portuguesas desde 2015, mas agora veio à tona o vasto esquema de corrupção em terras lusitanas e que pode ter migrado para outros países onde o Partido dos Trabalhadores fermentava interesses escusos, a começar por Angola.
Para o Ministério Público luso, José Dirceu reuniu-se, em Portugal, com o então presidente do conselho de Administração da Portugal Telecom, Henrique Granadeiro, ocasião em que foram acertados os detalhes referentes à “mesada”.
Após pagamento inicial de 500 mil euros (cerca de R$ 1,657 milhão), justificado na contabilidade da empresa portuguesa com um falso contrato de prestação de serviços jurídicos (praxe do petista para camuflar dinheiro de origem duvidosa), Dirceu começou a receber pagamentos mensais de 30 mil euros. As “mesadas” foram pagas inclusive no período em que José Dirceu esteve encarcerado no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, por conta de condenação na Ação Penal 470 (Mensalão do PT).
O dinheiro repassado a Dirceu saiu de uma offshore ligada ao Banco Espírito Santo – a Espírito Santo Financial, que também aparece em outros esquemas de propina – e que, segundo os investigadores portugueses, era depositado em conta usada exclusivamente para o pagamento das despesas de José Dirceu. Isso pode explicar como o petista conseguiu nesse período contratar caros e badalados criminalistas.
A investigação revela que a movimentação financeira era respaldada por um contrato com o escritório do advogado João Abrantes Serra, também investigado na Operação Marquês. Luís Oliveira e Silva, irmão de José Dirceu e que também foi preso na Lava-Jato, teria ligações com o tal escritório.
Abusando da desfaçatez, o ex-banqueiro Ricardo Espírito Santo Salgado negou que a mesada (30 mil euros) era um pagamento pela porção lobista de José Dirceu, alegando que referia-se a honorários advocatícios decorrentes de antigo processo judicial relacionado à invasão de uma propriedade da família.
Estripulias de Dirceu na “terrinha”
Em novembro de 2011, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão de José Dirceu e sócio do “mensaleiro” na JD Assessoria e Consultoria, empresa que há muito está no radar da Lava-Jato, esteve em Lisboa para negócios e contatos quase secretos. Na ocasião, o primeiro-ministro português era passos Coelho, com quem Dirceu se conecta através de Miguel Relvas, ex-ministro e foco de investigações em Portugal.
À época, Passos Coelho começou a dar muita atenção ao empresário Germán Efromovitch (colombiano naturalizado brasileiro), agenciado por José Dirceu e muito interessado na privatização da TAP, cuja conclusão se deu em junho de 2015. O cliente do petista perdeu a disputa pela companhia aérea portuguesa.
Um dos encontros de Luiz Eduardo [irmão de José Dirceu] foi com Ricardo do Espírito Santo Silva Salgado, então presidente do finado Banco Espírito Santo. O encontro entre ambos foi organizado pelo escritório de advocacia português “Lima, Serra, Fernandes & Associados” (LSF), ligado a João Abrantes Serra, do qual José Dirceu sempre foi parceiro.
Não por acaso, no rastro da erva daninha que os petistas plantaram em Portugal, em 2012 uma campanha eleitoral ao Legislativo português foi custeada por um conhecido político brasileiro que agora mofa na cadeia por decisão do juiz da Operação Lava-Jato. Na ocasião, um marqueteiro brasileiro, que prospectava negócios em Lisboa, ouviu de um amigo de longa data que a tal campanha estava sendo paga por um dos próceres petistas. Possivelmente por alguém que tinha interesse na privatização da TAP.
Essa conexão do crime que une delinquentes brasileiros e portugueses passa obrigatoriamente por Angola, assunto que as autoridades lusas conhecem a fundo. Afinal, o político português eleito com dinheiro de um marginal brasileiro despejou, sem explicação convincente, verdadeira fortuna em um banco angolano.
Coincidência ou não, o marqueteiro João Santana, o preferido do PT, atuou fortemente em Angola, onde a Odebrecht tem muitos negócios e interesses em demasia. Santana ainda não conseguiu explicar à força-tarefa da Lava-Jato uma questão que matematicamente não fecha: como um ditador (no caso José Eduardo dos Santos), há quase quarenta anos poder, gasta R$ 50 milhões para ser reeleito. Um marqueteiro consultado pelo UCHO.INFO afirmou, sem medo de errar, que a campanha à reeleição do presidente angolano, em 2012, não custou mais de US$ 5 milhões.