Sem ter mostrado até agora a que veio, o governo de Michel Temer continua disseminando a ideia de que a economia brasileira ingressou na seara da recuperação, tese que é endossada por economistas das mais variadas correntes.
Entre o que dizem os integrantes do governo e os economistas e a realidade enfrentada pelos brasileiros no cotidiano há uma monumental diferença. Enquanto o governo precisa ludibriar a opinião pública para garantir a própria sobrevivência política, os economistas só enxergam cenários de longo prazo. Em outra ponta dessa tragédia econômica, o brasileiro continua tentando descobrir como chegar ao amanhã (leia-se dia seguinte).
Os recentes números da economia apontam para um cenário oposto ao anunciado pelos especialistas. Pela primeira vez em cinco anos, cresceu em janeiro o número de brasileiros que não conseguiram pagar as respectivas contas. São 60 milhões de inadimplentes, com dívidas que somam R$ 270 bilhões.
O desemprego em alta e a recessão são as principais causas do aumento no número de inadimplentes. Comparando com 2013, o contingente de brasileiros cidadãos com o nome negativado pelos órgãos de análise de crédito cresceu 18%.
Se por um lado os analistas veem um horizonte animador, o céu do presente é carrancudo e ameaçador. Em 2016, somente no estado de São Paulo o setor de serviços fechou 130.511 empregos formais. Na capital paulista o número do setor chega a assustar: 55.497 vagas formais de trabalho foram fechadas no segmento de serviços.
Em fevereiro deste ano, os pedidos de falência chegaram a 141, alta de 6,8% na comparação com o mesmo mês de 2016. Na comparação com janeiro deste ano, a alta nos pedidos de falência registrou, em fevereiro, alta de 53,3%.
A situação piora quando o assunto é decretação de falência. No mês passado, foram decretadas 70 falências, incremento de 218,2% ante janeiro. No acumulado do ano (janeiro e fevereiro), foram requeridas 233 pedidos de falências no País, número idêntico ao apurado no mesmo período de 2016. No primeiro bimestre de 2017 foram decretadas 92 falências, alta de 8,2% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Se por um lado o Palácio do Planalto comemora os supostos sinais de recuperação da economia, por outro o Banco Central sinaliza com a possibilidade de aumentar o ritmo de corte da taxa básica de juro, a Selic. É bom frisar que esse quadro só é possível porque o brasileiro vem reduzindo de forma sistemática o consumo, não porque o governo adotou alguma medida de estímulo à economia. Aliás, a única medida do governo até agora foi a fixação de um limite de gastos federais para os próximos vinte anos.