Até a confirmação de alguns acordos de delação premiada no escopo da Operação Lava-Jato, o PSDB vinha se apresentando na vitrine política nacional como reduto da moralidade. Tanto é assim, que o senador Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado na eleição presidencial de 2014, recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para questionar a chapa Dilma-Temer por abuso de poder econômico. É fato que não se pode pasteurizar denúncias de qualquer naipe, imputando a todos os integrantes de uma legenda crimes cometidos por alguns, mas a situação do tucanato não é das mais confortáveis.
Enquanto na seara federal o ninho tucano balança por causa dos efeitos colaterais de algumas delações da Lava-Jato, no âmbito estadual o cenário não é diferente. Isso porque na delação coletiva do Grupo Odebrecht surgiu nos depoimentos um nome conhecido nos bastidores do PSDB paulista. Trata-se de Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto.
Tido como operador de governos tucanos (leia-se José Serra e Geraldo Alckmin), Souza reuniu-se na última quarta-feira (8) com alguns criminalistas, ocasião em que foi discutida a possibilidade de delação antecipada. O que comprometeria sobremaneira os discursos de Alckmin e Serra.
Paulo Preto foi diretor da Dersa – Desenvolvimento Rodoviário S/A, estatal paulista que coordena os investimentos (privados ou não) em rodovias do estado de São Paulo. A estratégia apresentada pelos criminalistas está centrada na tese de que informações sobre alegado esquema de corrupção seriam mais valiosas se reveladas o mais rápido possível, antes de as delações dos executivos e ex-dirigentes da Odebrecht tornarem-se públicas.
Paulo Vieira de Souza corre contra o relógio, uma vez que as delações da Odebrecht, ainda sob a batuta da Procuradoria-Geral da República (PGR), chegarão ao Supremo Tribunal Federal (STF) possivelmente na próxima segunda-feira (13). A partir de então, dependerá do ministro-relator Luis Edson Fachin decidir sobre homologação das mesmas.
O eventual futuro delator comandou, entre 2005 e 2006, sob a batuta de Geraldo Alckmin, os investimentos rodoviários envolvendo o governo estadual e os municípios. Em 2007, quando José Serra desembarcou no Palácio dos Bandeirantes, Paulo Preto foi guindado à Diretoria de Engenharia da Dersa.
Considerando que Souza não chegou aos respectivos cargos sem a anuência explícita de Alckmin e Serra, uma delação colocaria a perder os planos políticos de ambos. Até porque, Geraldo Alckmin e José Serra são pré-candidatos à Presidência da República, em 2018, pelo PSDB, dependendo apenas de uma decisão interna da legenda.
Com esse novo ingrediente na receita tucana, o candidato do partido à próxima corrida presidencial poderá ser alguém fora da tríade Aécio-Alckmin-Serra. Não sendo assim, os tucanos demonstrarão que suicídio político é o forte da legenda.
Mesmo declarando incondicional apoio à candidatura de Geraldo Alckmin, o prefeito de São Paulo, João Doria, que em termos políticos é considerado um “outsider”, corre o risco de ter de mudar seu projeto e aceitar ser o candidato tucano na eleição presidencial de 2018. Se cumprir parte do que prometeu na campanha à prefeitura paulistana – e tem condições para isso –, Doria há de se consolidar como candidato, apesar da birra de alguns tucanos de fina plumagem.