Coreia do Sul elege novo presidente em meio à crise com o regime ditatorial de Pyongyang

Os sul-coreanos elegem nesta terça-feira (9) o novo presidente do país, após meses de incerteza política causada pelo impeachment da ex-presidente Park Geun-hye. O pleito também ocorre em meio a um novo período de tensão com a Coreia do Norte, que vem intensificando sua retórica agressiva e ameaçando realizar novos testes nucleares.

Além disso, os Estados Unidos, principal aliado da Coreia do Sul, vem adotando uma política no mínimo confusa em relação ao problema. O presidente Donald Trump apoiou a instalação de um avançado sistema antimísseis na península – o que enfureceu os chineses –, mas ao mesmo tempo disse que os sul-coreanos teriam que pagar pela proteção americana. Trump também usou retórica dura ao falar do líder norte-coreano, Kim Jong-un, mas disse que estaria disposto a se reunir com ele.

Em meio a esse cenário, o grande favorito para vencer a eleição é o progressista Moon Jae-in, de 64 anos, que fez carreira como advogado especializado em direitos humanos. Atual líder do Partido Democrático da Coreia, Moon foi o segundo colocado na eleição de 2012, tendo perdido por uma diferença de apenas 3,6 pontos percentuais. Nas pesquisas mais recentes, ele aparece com cerca de 40% das intenções de voto. No Coreia do Sul não há segundo turno.

Menos pressão, mais diplomacia

Se eleito, Moon deve adotar uma abordagem mais diplomática em relação à Coreia do Norte, em contraste com a ex-presidente, que conduziu uma política agressiva durante seu mandato. Num dos debates presidenciais, Moon disse acreditar que a diplomacia é o melhor caminho para convencer os norte-coreanos a desistir do seu programa nuclear.

Observadores afirmam que as declarações dele lembram a chamada “Política do Brilho do Sol”, que entre 1998 e 2008, sob um governo de esquerda, buscou uma aproximação com os norte-coreanos, em contraste com a abordagem linha-dura adotada por diferentes governos sul-coreanos nos últimos oito anos e também com a política internacional de isolamento e pressão sobre o pequeno país asiático.

Naquela época, as Coreias criaram a zona econômica especial comum de Kaesong, o sul apoiou generosamente projetos de ajuda no norte e conversações bilaterais eram conduzidas sem exigências prévias. Desta vez, Moon fala em três projetos centrais: uma cúpula coreana com Kim Jong-un, a reabertura de Kaesong e a criação de uma área turística no Monte Kumgang, no norte. Estes dois projetos podem trazer milhões de dólares por ano aos norte-coreanos.


Na semana passada, em entrevista ao jornal “The Washington Post”, Moon também criticou o envio do sistema de mísseis americano, afirmando que a instalação das armas não era desejável e que a decisão não foi democrática. O sistema é altamente controverso na Coreia do Sul. Moon também disse que a diplomacia sul-coreana deve desempenhar um papel mais importante na relação com a Coreia do Norte, em vez de deixar todos os debates com a China e os EUA.

“Na opinião dele, Seul deve seguir uma política autônoma para a Coreia do Norte e ocupar uma posição de liderança para levar a paz e a estabilidade à Península Coreana”, afirma o cientista político Steven Denney, da Universidade de Toronto. “Isso pode gerar atritos com Washington”, acrescenta. Esta semana, o secretário de Estado Rex Tillerson pediu à comunidade internacional que encerre relações diplomáticas e comerciais com a Coreia do Norte.

Eleição com alta participação

A eleição sul-coreana não deve ter apenas impacto internacional. No âmbito doméstico, espera-se que a eleição de um novo presidente ajude a superar as divisões deixadas pelo impeachment de Park Geun-hye. Filha de um antigo ditador sul-coreano e primeira mulher a ser eleita presidente no país, Park se viu envolvida em 2016 num escândalo de corrupção que levou milhões de sul-coreanos a protestar nas ruas.

Ela foi suspensa do cargo em dezembro, após uma votação na Assembleia Nacional. Em março deste ano, a suprema corte do país confirmou o afastamento definitivo. Park Geun-hye acabou sendo presa em 30 de março. Desde o início do processo de impeachment, o governo vem sendo administrado pelo primeiro-ministro Hwang Kyo-ahn.

Os principais oponentes de Moon no pleito desta terça-feira são o empresário da área de informática Ahn Cheol-soo e o ex-governador conservador Hong Jun-pyo, do mesmo partido da ex-presidente. Ambos aparecem disputando o segundo lugar, intercalando regularmente a posição nas últimas semanas, com cerca de 20% das intenções de voto e bem atrás de Moon.

Mais de 40 milhões de pessoas estão registradas para votar na Coreia do Sul. Dez milhões se anteciparam e já depositaram seus votos em seções eleitorais abertas previamente. A última eleição presidencial, em 2012, teve comparecimento de 75%. Desta vez, espera-se mais de 90%. (Com agências internacionais)

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