JBSgate: ao descartar renúncia e cobrar de aliados “confronto”, Temer quer ganhar tempo e evitar prisão

Encalacrado no âmbito da delação dos irmãos Wesley e Joesley Batista, donos do grupo JBS, o presidente Michel Temer decidiu seguir o mesmo roteiro da antecessora por ocasião do processo de impeachment. Declarou em pronunciamento, na quinta-feira (18), que não renunciará ao cargo e solicitou aos assessores e aliados para que adotem a política do confronto. Como se essa prática não fosse conhecida e tivesse um desfecho previsível.

Temer, no começo da manhã de quinta-feira, estava decidido a renunciar, mas um detalhe, antecipado pelo UCHO.INFO na noite anterior, fez com que o presidente da República mudasse de ideia, após uma saraivada de conselhos de assessores. A possibilidade de prisão diante da perda do foro especial por prerrogativa de função, o chamado foro privilegiado, pois está comprovado o cometimento de pelo menos um crime na fatídica conversa com Joesley Batista: obstrução à Justiça. Fato que levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a abrir inquérito para investigá-lo.

A governabilidade despencou nas horas seguintes ao anúncio do escândalo, fazendo com que o País, mergulhado em grave e múltipla crise, se transformasse em uma nau sem rumo em águas revoltas. Michel Temer sabe que sua permanência na Presidência está por um fio, assim como não pode ignorar que levar adiante esse plano suicida em termos políticos é impossível.

Enquanto, no meteórico discurso, números da economia foram incensados para justificar o escândalo, rotulado como conspiração, Temer estava preocupado com o próprio futuro. E não se trata de um tempo longo, mas o amanhã efetivamente. O presidente permanecerá agarrado ao cargo o quanto der, pois isso lhe dá a garantia de não ser preso a qualquer momento. Ou seja, pouco importa a situação do País e o desespero dos brasileiros.


Tanto é assim, que o presidente chamou a Brasília o renomado e competente criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, amigo de longa data e que por pouco não integrou a equipe ministerial do atual governo. Mariz foi à capital dos brasileiros para analisar a possibilidade de o presidente patrocinar uma investida contra a delação dos irmãos Batista, tarefa das mais difíceis e com pouca chance de sucesso. Contudo, como o objetivo é ganhar tempo, não se deve descartar essa operação que afronta a crise.

No discurso feito no Palácio do Planalto alguns minutos após as 16 horas, Michel Temer tentou vestir a fantasia de vítima e falou em gravação ilegal. É importante ressaltar que a gravação feita por Joesley Batista, durante encontro no Palácio do Jaburu, em março passado, nada tem de ilegal. Trata-se de ingrediente explosivo e comprometedor que faz parte de uma operação controlada, tudo com a autorização da Procuradoria-Geral da República e a participação ativa da Polícia Federal.

Michel Temer tem o direito de espernear como e quanto quiser, mas não se pode ignorar a essência criminosa do encontro e o teor malandro da conversa entre o presidente e o empresário. Se por um lado ainda resta alguma dúvida sobre a conivência do presidente da República com a operação para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, por outro é certo que o peemedebista errou gravemente ao concordar com os crimes relatados pelo empresário.

Espoliado de todas as formas, o Brasil, como nação, deveria ter prioridade nessa epopeia bandoleira, mas infelizmente, como vem acontecendo nos últimos quinhentos anos, há de prevalecer os interesses dos donos do poder. Um dia alguém ousou afirmar que o Brasil era o futuro. Quem sabe um dia esse tal futuro dá o ar da graça.

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