Após quase vinte anos do escândalo que sacudiu a política brasileira e provocou tremores na campanha à reeleição de Fernando Henrique Cardoso, o polêmico Dossiê Cayman voltou à tona nesta quinta-feira (25) com a prisão do pastor Caio Fábio D’Araújo Filho, acusado de ser o principal responsável pela falsificação de documentos.
Obra de ficção sobre um fato verdadeiro, o rumoroso dossiê, divulgado em 1998 e oferecido a políticos brasileiros, sem que sua autenticidade fosse comprovada, apontava para contas bancárias de tucanos no exterior. Os políticos eram acusados de manter em paraísos fiscais elevadas quantias em dinheiro (US$ 368 milhões), fruto de suposta propina cobrada ao longo do processo de privatização das empresas de telefonia. Entre os políticos cujos nomes foram mencionados no conjunto de documentos estavam, além de Fernando Henrique, estavam José Serra, Sérgio Motta e Mário Covas.
Os integrantes do grupo que produziu o material moravam à época em Miami e aproveitaram informações verdadeiras sobre contas bancárias de políticos brasileiros no exterior para rechear o tal dossiê. Se as tais contas que serviram de base para a confusão pertenciam aos acusados não se sabe, mas a divulgação do material agitou a política brasileira naquele ano.
Cópias do tal dossiê foram espalhadas e vendidas a candidatos da oposição durante as eleições de 1998. Na lista dos políticos que adquiriram o material estariam Paulo Salim Maluf e Fernando Collor de Mello, acusado de, juntamente com o irmão Leopoldo (já falecido), ter desembolsado US$ 2,2 milhões pelo conjunto de documentos. Naquele ano, o dossiê foi oferecido a Lula, de chofre não se interessou em comprá-lo.
Após anos de investigação, concluiu-se que empresários brasileiros, residentes na Florida (EUA) – Ney Lemos dos Santos, João Roberto Barusco, Honor Rodrigues da Silva e sua mulher Cláudia Rivieri – compraram por US$ 3,2 mil a empresa CH, J & T, aberta em 1994 nas Bahamas pelo advogado norte-americano Robert Allen Junior.
Nos documentos, os artífices colaram uma cópia da assinatura do ex-ministro Sérgio Motta (Comunicações) como sendo um dos seus diretores da CH,J & T, junto com um sócio fictício chamado Ray Terence. Cópias desses documentos foram oferecidas a vários políticos brasileiros.
O pastor Caio Fábio foi acusado pela Polícia Federal de ser o principal intermediador do esquema criminoso. Em novembro de 2011, Caio Fábio foi condenado a quatro anos de prisão por envolvimento no crime. A sentença, da juíza da Justiça Eleitoral Léa Maria Barreiros Duarte, foi posteriormente anulada por decisão do juiz do Tribunal Regional Eleitoral Alexandre David Malfatti, em fevereiro de 2012.
Em gravação enviada a veículos de mídia gospel, Caio Fábio relata que, informado sobre sua condenação, apresentou-se às autoridades em Brasília e, após procedimento na Polícia Federal, foi transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda, onde cumprirá pena em regime semiaberto. A prisão do religioso foi confirmada por sua esposa, Adriana D’Araújo, que também em gravação relatou que o marido já iniciou processo de evangelização na Papuda.