Adversários conhecidos, Roseana e José Reinaldo confirmam o dito popular de que “lobo não engole lobo”

A incoerência é a força-motriz da política nacional, mas a desfaçatez impera quando em jogo estão interesses políticos quase sempre escusos. Por conta desse movimento nada republicano, inimigos figadais tornam-se, da noite para o dia, aliados, como se a cordialidade existisse há décadas.

O melhor (sic) exemplo dessas alianças burlescas é a relação entre Lula e Fernando Collor de Mello, que na eleição presidencial de 1989 protagonizaram vexatória autofagia política, mas anos mais tarde juntaram-se politicamente como se o passado simplesmente inexistisse.

Contudo, esse picadeiro não é privilégio apenas de Lula e Collor, duas figuras canhestras da política nacional. Há nesse palco outras faces lenhosas que fingem cordialidade como se estivessem a encenar uma releitura de “Rei Lear”, tragédia teatral do gênio William Shakespeare.

Na última quinta-feira (1), um encontro considerado impossível causou estranheza na capital maranhense. Adversários políticos conhecidos e de longa data, os ex-governadores José Reinaldo Tavares (PSB) e Roseana Sarney (PMDB) encontraram-se casualmente em restaurante da capital maranhense.

Naquela data, Roseana, filha do caudilho José Sarney, o homem que levou o Maranhão à miséria e ao desastre econômico, comemorava seu 64º aniversario quando foi gentilmente abordada por José Reinaldo, que estava no mesmo restaurante em que se encontrava a peemedebista.

O agora deputado federal José Reinaldo não apenas cumprimentou a adversária política pelo aniversário, com direito a carinhoso abraço e beijo na face, mas fez um rasgado elogio ao dizer “Roseana, você está linda!”. Ao que a ex-governadora respondeu: “Estou me cuidando”.


Ex-ministro dos Transportes no governo do coronel José Sarney (1986-1990), ex-vice-governador no mandato de Roseana Sarney (1995-1998) e ex-governador do Maranhão (2002-2006), José Reinaldo certa feita decidiu romper com o clã da Praia do Calhau e engrossou a aliança que elegeu Jackson Lago (PDT) para comandar os destinos do estado mais pobre da federação. Lago derrotou Roseana em 2006, mas a peemedebista conseguiu destronar o governador na esteira de uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) que tramitou no TSE.

Desde então, José Reinaldo e o grupo político liderado pela família Sarney passaram à tolerância mútua, interrompida frequentemente por golpes sujos e rasteiros disparados nos bastidores da política maranhense, algo que se repete em todo o País.

Esse impensado encontro de Roseana e José Reinaldo Tavares não é obra do acaso. As respectivas assessorias negam que a suposta casualidade tenha sido estrategicamente planejada, mas não se pode esquecer que o próximo ano será de eleições, caso não ocorra mais um atentado contra a Constituição Federal depois da eventual queda de Michel Temer, o atual e ainda presidente da República.

José Reinaldo Tavares está de olho no Senado e para tanto precisa de apoio político de todas as correntes ideológicas. O plano político de José Reinaldo é considerado perigoso, pois suas chances de chegar À Câmara alta são pequenas. Mesmo assim, sonhar não paga impostos e é de graça.

Por outro lado, Roseana Sarney, que ao deixar o governo do Maranhão, em 10 de dezembro de 2014, anunciou sua aposentadoria política, não mediria esforços para, no próximo ano, embaralhar o cenário eleitoral no estado que sua família conseguiu arruinar.

Em suma, que ninguém acredite nesse inesperado e cordial reencontro de Roseana e José Reinaldo, pois ambos cobras criadíssimas e frequentaram o mesmo serpentário político. E como prega a sabedoria popular, lobo não engole lobo porque engasga com o pelo.

apoio_04