Países do Golfo cortam relações diplomáticas com o Qatar por suposto apoio ao terrorismo

Como se nada representassem os atentados levados a cabo pelo grupo terrorista “Estado Islâmico” (EI), que tenta implantar um califado em parte do Iraque e da Síria, o governo do Qatar colocou mais combustível no sempre conturbado Oriente Médio.

O imbróglio surgiu depois de um suposto apoio do Qatar a organizações jihadistas como a Al-Qaeda e o EI no Iêmen, de acordo com comunicado divulgado pela agência de notícias estatal da Arábia Saudita (SPA).

Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Bahrein e Iêmen romperam, nesta segunda-feira (5), as relações diplomáticas com o Qatar, após acusarem o país de apoiar o “terrorismo”. A decisão provoca automaticamente a expulsão do Qatar da coalizão árabe que luta Iêmen.

O governo de Doha rejeitou a decisão, classificada como “injustificável” e “sem fundamento”. Em comunicado oficial, o Qatar denunciou que o objetivo da medida é “colocar o Estado (do Catar) sob tutela, algo totalmente inaceitável”.

A agência de notícia SPA, de Riad, informou que a Arábia Saudita cortou os vínculos diplomáticos e consulares com o país vizinho para “proteger a segurança nacional dos perigos do terrorismo e do extremismo”. De acordo com uma fonte oficial citada pela agência saudita, o país também decidiu “fechar fronteiras terrestres, marítimas e a ponte aérea”.

Cinco empresas aéreas do Golfo anunciaram a suspensão dos voos que têm o Qatar como destino e origem, decisão que acirra ainda mais os ânimos na região. Três companhias de aviação dos Emirados Árabes – Etihad, Emirates e Flydubai – e uma saudita (Saudia) tomaram a decisão após o anúncio do fechamento das conexões áreas e das fronteiras dos três países vizinhos. No contraponto, a Qatar Airways também suspendeu todos os voos para a Arábia Saudita.

Em visita oficial à Austrália, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, pediu aos países do Golfo que permaneçam unidos e superem as divergências. “Estimulamos as partes para que sentem e tratem as divergências”, afirmou Tillerson, em Sydney. “Acreditamos que é importante que o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) permaneça unido”, disse o chefe da diplomacia estadunidense.


Rastilho de pólvora

Desde a criação do Conselho de Cooperação do Golfo (1981), formado por Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã e Qatar, esta é a mais grave do bloco. Em questão horas ao menos quatro países anunciaram a ruptura de relações diplomáticas com o governo de Doha, comandado pelo Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani.

A agência oficial de notícias do Bahrein informou que o pequeno reino romperia relações com o Qatar por conta das seguidas ameaças “à segurança e à estabilidade do país e por interferências em seus temas”.

O Ministério das Relações Exteriores do Egito, por sua vez, anunciou que o país decidiu “acabar com as relações diplomáticas com o Estado do Qatar” pelo fato de Doha apoiar o “terrorismo”. O governo do Cairo também anunciou o fechamento de todas as rotas marítimas e aéreas entre os dois países, decisão que eleva a temperatura entre os países envolvidos na polêmica que promete capítulos extras. O comunicado do governo egípcio destaca “o fracasso de todas as tentativas para dissuadir (o Qatar) de apoiar organizações terroristas”.

O Qatar era um dos principais apoiadores do ex-presidente islamista egípcio Mohamed Mursi, derrubado em 2013 pelo ex-comandante das Forças Armadas e atual presidente egípcio, Abdel-Fattah al-Sisi. O comunicado egípcio menciona “o fracasso de todas as tentativas para dissuadir (o Catar) de apoiar organizações terroristas”.

Alguns analistas internacionais temem que a situação piore com o passar das horas, levando à repetição da crise de 2014, quando vários embaixadores de países do Golfo em Doha foram chamados por seus governos, principalmente por causa das acusações de que Doha estava a apoiar a Irmandade Muçulmana. (Com AFP)

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