Reino Unido: após revés eleitoral, Theresa May desdobra-se para permanecer à frente do governo

Apesar de ter ficado à frente nas eleições gerais de quinta-feira (8), o Partido Conservador, da primeira-ministra britânica, Theresa May, perdeu a maioria absoluta no Parlamento. O resultado gera incerteza sobre a estabilidade de seu governo, a menos de duas semanas do início das negociações do Brexit. Em outras palavras, May apostou errado e agora tem de administrar um revés inesperado.

Theresa May convocou eleições antecipadas em 18 de abril para elevar a maioria conservadora no Parlamento e facilitar o processo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o Brexit. Na ocasião, certos de que “nadavam de braçadas”, os conservadores tinham largos 20 pontos percentuais de vantagem sobre os trabalhistas, mas perderam votos ao longo da campanha. O principal objetivo de May caiu por terra, quiçá foi um dolorido tiro pela culatra.

Os conservadores não conseguiram alcançar os 326 assentos necessários para formar uma maioria absoluta na Câmara dos Comuns. O partido de May ficou com 315, contra 261 do Partido Trabalhista. Na contagem final, os conservadores perderam 12 cadeiras, e a legenda de Jeremy Corbyn, principal rival de May nas eleições, ganhou 29 em relação à última eleição, de 2015.

Na distribuição final, o Partido Nacionalista Escocês (SNP) alcançou 35 cadeiras, os liberais democratas, 12, e o Partido Unionista Democrático, da Irlanda do Norte, ficou com dez assentos.

É com o partido norte-irlandês que May e os trabalhistas se uniram, após intensas negociações durante a madrugada, para formar governo. Mas as legendas guardam diferenças, inclusive em relação ao Brexit. Isso pode influenciar as negociações.


Negociações

O novo cenário lança ainda mais incerteza às negociações com a UE. O impasse político deve atrasar sobremaneira o processo. Enquanto May descarta renunciar, a corrida para formar coalizões começou na Câmara dos Comuns.

O líder trabalhista Jeremy Corbyn afirmou que está “pronto para servir” o país e negociar acordos e pactos com outros partidos no Parlamento. Ele insistiu que May renuncie ao cargo. “A política não vai voltar para a caixa em que estava antes”, afirmou.

O negociador europeu sobre o Brexit, o francês Michel Barnier, disse que as negociações vão continuar. “As negociações do Brexit deveriam começar quando o Reino Unido estiver preparado”, afirmou. “O cronograma e as posições da UE são claras. Vamos juntar esforços para obter um bom resultado.”

Já o negociador do Brexit na União Europeia, Guy Verhofstadt, disse que o resultado deixa “as complexas negociações ainda mais complicadas”.

As eleições aconteceram em meio a fortes medidas de segurança após os recentes atentados no país. No último sábado (3), oito pessoas morreram e 48 ficaram feridas num ataque em Londres. Há duas semanas, a explosão de um homem-bomba deixou 22 mortos durante o show da cantora Ariana Grande, em Manchester. (Com agências internacionais)

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