TSE: na era do smartphone, desculpa de Napoleão Maia sobre o “homem misterioso” não convence

A memória do brasileiro é curta e a passividade, monumental. Como se não bastasse, a preguiça do raciocínio chega a assustar. Na última e fatídica sexta-feira (9), quando o Tribunal superior Eleitoral (TSE) de forma desavergonhada decidiu não cassar a chapa Dilma-Temer, apesar do cipoal de provas, um fato chamou a atenção de maneira pontual, mas caiu no esquecimento com o avanço do julgamento.

O ministro Napoleão Nunes Maia Filho, que abriu a divergência ao voto do relator (Herman Benjamin), tentou intimidar a imprensa com ameaças descabidas e que nem de longe coadunam com a magistratura. Napoleão ficou extremamente irritado com notícia publicada em alguns veículos de imprensa, em especial sites, de que um “homem misterioso” e com um envelope em mãos tentou invadir o plenário do TSE, onde acontecia o julgamento.

“Um site altamente dinâmico e consultado do Brasil publicou uma notícia dizendo que um homem misterioso, portando um envelope, tentou forçar a entrada no TSE para entregar isto [o envelope] ao ministro Napoleão. ‘Homem misterioso’ e ‘envelope’, dentro da nossa linguagem, tem um significado […] Eu passei hoje momentos de grande revolta e de desejo de que esta pessoa sofra em si ou na sua família o que me fez passar. Era simplesmente um envelope com as fotos de uma criança”, disse o descontrolado ministro.

Visivelmente nervoso, Napoleão Maia, após sugerir que alguns jornalistas deveriam ser degolados, tentou explicar o entrevero, ao mesmo tempo em que recebia o apoio do presidente da Corte eleitoral, ministro Gilmar Mendes, que tornou-se contumaz em ataques à imprensa e ao Ministério Público Federal (MPF).

“Meu filho veio aqui ao tribunal para entregar umas fotos da filha. Como não vou estar em Fortaleza, ele veio me mostrar a foto. Ele não vinha trajado a rigor e, portanto, não pode entrar acertadamente no recinto das sessões. A segurança do tribunal barrou-lhe o ingresso”, explicou Napoleão.


Napoleão Maia tem o direito de reagir a algo que lhe incomoda, mas não pode querer que a sociedade aceite de forma passiva seu destampatório. Até porque, o filho de um juiz deve saber que não é recomendável invadir o plenário de uma Corte, principalmente nervoso e com um envelope na mão.

A questão não é colocar em xeque a idoneidade do ministro e muito menos a intenção do seu filho, mas em alguns casos – na verdade em todos – deve prevalecer a teoria sobre Pompeia Sula, uma das esposas do imperador romano Julio César, a quem não bastava ser honesta, mas parecer como tal.

Tomando por base que o tal envelope continha fotos da neta do ministro Napoleão Maia, fica claro que o julgamento da chapa Dilma-Temer foi uma farsa descomunal, na qual quatro ministros não deram ouvidos ao voto do relator. Tentar invadir o plenário do TSE para entregar fotos de uma criança de três anos, que aniversariava naquele dia, é no mínimo cena de uma das muitas rocambolescas novelas mexicanas. Ademais, uma pessoa visivelmente nervosa – sem os trajes exigidos para o recinto – não pode estar fazendo algo tão simples e corriqueiro quanto carregar um envelope com fotos.

Para piorar a situação e desmontar o truculento discurso de Napoleão Maia, o planeta está em pleno século XXI e assiste ao célere e impressionante avanço da tecnologia. Caso o ministro do TSE não saiba, assim como seu filho, não é por acaso que os celulares são chamados de smartphones (telefones inteligentes). Um dos recursos desses equipamentos imprescindíveis à vida moderna é enviar e receber fotos, o que evita transtornos como revelação de fotografias, o uso de automóveis, congestionamentos e, acima de tudo, constrangimentos.

Napoleão Nunes Maia Filho disse que está juiz há trinta anos, mas sua reação mostrou que seu ingresso na magistratura foi um equívoco imperdoável. Até porque, um juiz que sugere a degola de desafetos e quer que a opinião pública acredite em suas explicações é a “fulanização” do deboche.

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