Em vez de mirar dono da JBS, Temer deveria se preocupar com Loures, Eduardo Cunha e Lúcio Funaro

Alvo de sucessivas e graves acusações por parte do empresário Joesley Batista, o presidente da República, Michel Temer (PMDB), tem dedicado muito tempo às questões relacionadas ao dono do Grupo J&F. Não se trata de ignorar o direito de defesa, até porque o presidente deve uma explicação à opinião pública, mas de mirar outros flancos, de onde podem eclodir problemas muito maiores e mais complexos.

A delação de Joesley tem pontos de inconsistência, assim como protege de forma excessiva o ex-presidente Lula, mas é impossível deixar de lado o fato de que o que foi relatado a respeito de Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor de Temer, foi comprovado pela Polícia Federal de maneira inconteste. O que sugere a veracidade das informações prestadas à Procuradoria-Geral da República (PGR).

Ciente de que sua carreira política pode ter chegado a poucos passos do fim, Michel Temer precisa permanecer no cargo para garantir o foro privilegiado e evitar problemas jurídicos que surgiriam na esteira de eventuais renúncia ou impedimento.

Por mais que o acordo de colaboração de Wesley e Joesley Batista tenha sido excessivamente premiado, até porque os irmãos do frigorífico JBS continuam livres e soltos, as informações repassadas às autoridades necessitam de comprovação, sob pena de, ocorrendo o contrário, a situação complicar sobremaneira para ambos.


Na política é praxe negar qualquer acusação, situação que é mantida até o surgimento da primeira prova. O flagrante que levou Rocha Loures à prisão é um complicador para o presidente da República, que não poderá negar informações de uma possível delação do ex-assessor.

Temer, que adotou a estratégia de fazer do ataque a sua melhor defesa, deveria se preocupar com as possíveis delações do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba, e do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, operador financeiro do PMDB e preso no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal.

Se Loures, Cunha e Funaro chegarem a bom termo no âmbito das colaborações premiadas, o presidente da República terá pouco tempo para desfrutar do cargo e, ao mesmo tempo, tomar uma decisão com o objetivo de evitar o pior.

Quem acompanhou o vídeo divulgado na tarde de segunda-feira (19) pela assessoria do Palácio do Planalto deparou-se com um Temer que tentava passar à opinião pública a falsa sensação de que tudo está sob controle na órbita do governo, o que não é verdade. Dizer que a viagem à Rússia e à Noruega tem como foco reuniões para convencer empresários dos dois países a investirem no Brasil é querer fugir da realidade.

Qualquer investimento estrangeiro no Brasil depende diretamente da estabilidade política, algo que está cada vez mais distante. Deixando Rodrigo Rocha Loures de lado, a eventual delação de Lucio Funaro, que está em fase avançada de negociação, provocará de maneira automática a de Eduardo Cunha. Na esteira de tão aguardada convergência de delações, o PMDB não se sustenta. É ver para crer!

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