Ao menos uma das muitas epopeias criminosas que têm o ex-presidente Lula no olho do furacão devem render capítulos extras. A defesa do petista entregou, nesta segunda-feira (25), à Justiça os comprovantes do pagamento do aluguel do apartamento contíguo ao do ex-metalúrgico, em São Bernardo do Campo, no Grande ABC. Os documentos referem-se ao período entre agosto de 2011 a dezembro de 2015.
Há na respectiva ação penal um detalhe que ainda levanta suspeita e pode complicar a já difícil situação de Lula. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, responsável na primeira instância da Justiça Federal pelos processos decorrentes da Operação Lava-Jato, Glaucos da Costamarques, dono do polemico apartamento, disse que até 2015 não recebeu os alugueis, o que passou acontecer após esse período em razão do avanço das investigações do Petrolão.
De acordo com o Ministério Público Federal, o apartamento foi comprado por Costamarques com dinheiro da empreiteira Odebrecht, que usou uma construtora de menor porte para fazer o repasse dos recursos. Glaucos é primo do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula e condenado na Lava-Jato.
Em 13 de setembro, durante audiência na Justiça Federal de Curitiba, Moro questionou Lula sobre os mencionados recibos. O petista respondeu: “Tem recibo, deve ter, posso procurar com os contadores para saber se tem”.
Esse enredo pode ser considerado estranho e suspeito, pois durante depoimento Lula mostrou-se visivelmente irritado com as perguntas do juiz Sérgio Moro a respeito dos recibos de pagamento do aluguel do apartamento.
Glaucos Costamarques disse à Justiça que, apesar de ter começado a receber os alugueis somente a partir de 2015, declarou à Receita Federal que a família do ex-presidente da República havia quitado todos os valores desde 2011, ano em que firmou contrato de locação com a ex-primeira-dama Marisa Letícia, que morreu em fevereiro passado.
Alguém nesse episódio rocambolesco está agarrado à mentira e não demorará muito para ser desmascarado. Se Costamarques informou à Receita ter recebido os valores referentes à locação do imóvel, não havia razão para fazer declaração contrária à Justiça.
Por outro lado, Lula afirmou que não sabia da existência dos tais recibos, mas menos de suas semanas após a audiência na capital paranaense os documentos surgem como se fossem obra de um milagre. A Polícia Federal precisa ser acionada para periciar os mencionados recibos, pois há nesse caso muitos detalhes que ainda permanecem na vala do desconhecimento. Caso os recibos tenham sido produzidos recentemente, a situação de Lula há de piorar muito. Não obstante, os tais contadores citados pelo ex-presidente precisam ser chamados a depor.
Outro detalhe que chama a atenção e merece ser investigado é que os recibos apresentados pela defesa de Lula não estão acompanhados de depósitos bancários. Isso sugere que os pagamentos foram feitos em dinheiro vivo, cuja origem precisa esclarecida pelos acusados.