Cresce no Senado pressão para adiar votação que definirá o futuro do afastado Aécio Neves

(Divulgação)

O Senado Federal vive nesta terça-feira (17) uma situação bizarra, entre as muitas que pululam no cotidiano da Casa legislativa. Senadores articulam-se nos bastidores para tentar adiar a votação que decidirá sobre o afastamento de Aécio Neves (PSDB-MG), alvo de medidas cautelares impostas pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).

Coadjuvante em escândalo de corrupção envolvendo o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, Aécio foi afastado das atividades parlamentares e obrigado ao recolhimento domiciliar noturno, decisões que colocaram o Senado em “pé de guerra” com o Judiciário. Isso porque senadores investigados por corrupção e outros crimes temem ser alvo de medidas idênticas.

No início de outubro, o Senado ameaçou com a possibilidade de descumprir a decisão do STF, o que provocaria o acirramento da grave crise institucional que chacoalha o País. Diante do impasse, o STF se apressou e marcou para o último dia 11 a votação em plenário, cuja decisão mais uma vez atropelou o ordenamento legal brasileiro e a lógica jurídica. Ou seja, o STF apequenou-se diante da pressão que partiu do Senado.

A pressa dos senadores em definir a situação de Aécio Neves parece ter perdido força. Com pelo menos onze senadores fora de Brasília e a decisão do ministro Alexandre de Moraes (STF) que exige votação aberta, a chance de o afastamento de Aécio ser mantido é grande. Não obstante, 42% dos senadores não revelam o voto, ao mesmo tempo em que partidos de oposição já sinalizaram que votarão contra o parlamentar tucano.


Precisando de pelo menos 41 votos para retomar o mandato eletivo, Aécio Neves viu sua situação piorar sobremaneira nas últimas horas, mesmo com a ajuda do Palácio do Planalto, que vem atuando nos escaninhos do Senado para salvar o ainda presidente licenciado do PSDB, que por sua vez ajudará o presidente da República na Câmara dos Deputados.

A estratégia que começou a ser gestada na noite de segunda-feira (16) prevê o adiamento da votação, sob a alegação de que os senadores ausentes gostariam de participar da decisão. Parte da oposição defende que a votação ocorra na tarde desta terça-feira, como previsto, ciente de que a derrota de Aécio Neves é irreversível.

Quando cobrou de Joesley Batista R$ 2 milhões, pagamento espertamente rotulado como empréstimo, Aécio não pensou nas consequências, mas apenas apostou suas fichas na impunidade. Com o escândalo sendo fermentado com o passar dos dias, Aécio Neves não tem o direito de escolher o dia que deseja ser julgado por seus pares. Caso essa manobra espúria seja aprovada, os senadores pagarão um custo político elevadíssimo, algo pouco recomendável se considerado o fato de que o próximo ano é de eleições.

Por outro lado, é grande o prejuízo político-eleitoral do PSDB com essa investida para de alguma maneira salvar Aécio Neves. Para um partido que recentemente falou em “mea culpa”, o PSDB tem se mostrado mais do mesmo. O que não é novidade na política dessa barafunda chamada Brasil.

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