Apesar da crescente indignação da opinião pública e dos discursos unânimes contra a corrupção, o Brasil não tem conseguido de forma eficiente a chaga que vem corroendo o País, revelou a ONG Transparência Internacional em seu Índice de Percepção da Corrupção (IPC), publicado nesta quarta-feira (21). Em 2017, o Brasil caiu 17 posições frente ao ano anterior.
Entre os 180 Estados e territórios avaliados, o Brasil ocupa o 96º lugar no ranking de países corruptos – no mesmo relatório referente a 2016, ele aparecia na posição 79. Apenas dois países apresentaram queda mais dramática: Libéria, caindo 32 posições, e Bahrein, 33.
Como já diz o nome, o IPC mede como a corrupção é percebida nos países – sem levar em conta dados quantitativos, como o montante de dinheiro desviado, e sem medir se, de fato, o problema se agravou ou não na região.
No topo do índice está a Nova Zelândia, seguida da Dinamarca. Finlândia, Noruega e Suíça aparecem logo abaixo, empatadas. A Somália, por sua vez, ocupa a última posição do ranking, atrás de Afeganistão, Síria e Sudão do Sul.
Entre os países do grupo Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a corrupção brasileira é a segunda pior classificada, ficando atrás somente da Rússia. Já entre 32 países das Américas, o Brasil está na posição 18 – o Canadá figura em primeiro, e a Venezuela, em último.
Brasil em queda
A classificação do Brasil no IPC vem piorando desde 2014, ano em que o país aparecia em 69º lugar. Segundo a Transparência Internacional, a trajetória de queda pode ser explicada pelos efeitos da Operação Lava-Jato e de outras grandes operações anticorrupção, que expõem o esforço notável do país em enfrentar o problema e, consequentemente, traz à luz a corrupção em toda sua dimensão.
Em relação ao índice de 2017, a ONG acredita que a piora significativa do Brasil se deve à percepção de que, apesar dessas operações, os fatores estruturais da corrupção no país seguem inabalados, uma vez que não foi possível fazer avançar medidas para atacar de maneira sistêmica o problema.
“É fato que as grandes operações de investigação e repressão dos últimos anos trouxeram avanços importantes, como a redução da expectativa de impunidade e o estabelecimento de um novo padrão de eficiência para essas ações”, afirma Bruno Brandão, representante da ONG no Brasil.
Ele observa, contudo, que “não houve em 2017 qualquer esboço de resposta sistêmica ao problema”. “Ao contrário, a velha política que se aferra ao poder sabota qualquer intento neste sentido”, completa o representante da ONG.
Para Brandão, a polarização social pode também inflamar o problema: “Se as forças que querem estancar a sangria se mostram bastante unidas, a população se divide na polarização cada vez mais extremada do debate público, o que acaba anulando a pressão social e agravando ainda mais a situação”.
O IPC usa uma escala de zero (altamente corrupto) a 100 (muito íntegro) para avaliar os Estados. Entre os 180 países analisados em 2017, mais de dois terços tiveram nota inferior a 50 – ou seja, mais de seis bilhões de pessoas vivem em países considerados corruptos. A nota do Brasil foi 37.
Para elaborar seu relatório anual, a Transparência Internacional avalia uma série de comportamentos corruptos no setor público, como suborno, nepotismo e desvio de verbas, além de fatores como o acesso da sociedade a informações sobre ações do governo. A ONG se baseia em dados coletados por 12 instituições independentes. (Com Deutsche Welle)