Marielle morreu não por ser negra e de origem pobre, mas porque no Brasil denunciar é um jogo bruto

Nada pode ser mais nauseante do que o oportunismo barato e rasteiro da classe política, que não respeita qualquer situação quando o assunto é triar algum proveito. No rastro do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Pedro Gomes, integrantes da esquerda promoveram um ato na Câmara dos Deputados, aproveitando sessão solene da Casa legislativa em homenagem a ambos.

Não demorou muito para a sessão solene ser transformada em ato contra o governo do presidente Michel Temer (MDB) e a intervenção federal no Rio de Janeiro. A solenidade foi comandada pelo presidente da Câmara, deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), pré-candidato à Presidência da República, mas sem cacife eleitoral para tamanho desafio.

A homenagem à vereadora carioca do PSOL e ao motorista começou com cortejo pelo corredor principal da Câmara, onde militantes acionados pela esquerda bandoleira carregavam girassóis e uma faixa com frase: “Marielle presente, Anderson presente: Transformar o luto em luta”.

No plenário da Câmara, os militantes ergueram cartazes com fotos de Marielle Franco e contra a intervenção militar. Ou seja, para esses manifestantes de aluguel a culpa pelo assassinato da vereadora é da intervenção, não da degradação da segurança pública fluminense ocorrida ao longo de décadas. Como alguns setores da esquerda nacional dependem e, vários sentidos do crime organizado, a saída é protestar contra a intervenção.

Durante os discursos de parlamentares, esquerdistas gritaram palavras de ordem pedindo o fim da Polícia Militar e da intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro. Entre os brados da esquerda, “Fora, Temer”, “Fora, Maia”, “Fora, Bolsonaro”, “Fascistas não passarão” e “Golpistas” foram os mais ouvidos. Ou seja, pegaram carona no cadáver da vereadora do PSOL para tentar salvar a esquerda do ralo político.

“Cada uma de nós, sobretudo as mulheres, nos sentimos morrendo um pouco”, disse a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), que destacou o crescimento desse tipo de crime “no curso de um governo sem legitimidade”.

Erundina que perdoe os jornalistas do UCHO.INFO, pois seu discurso é chicaneiro e de um oportunismo aviltante. Querer atrelar o assassinato de Marielle Franco à aludida ilegitimidade do governo de Michel temer é sinal de desespero de causa. Até porque, a intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro era aguardada pela extensa maioria da população, que não mais suporta viver em uma cidade que registra diariamente trinta tiroteios.

Em seguida, seguindo o script do oportunismo barato e delinquente, deputados da esquerda fizeram fila diante dos microfones do plenário para destacar a luta de Marielle Franco a favor dos direitos humanos e sua origem de mulher pobre e negra.


Sempre protagonista de episódios políticos lamentáveis, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) comparou o assassinato da vereadora do PSOL à morte dos ambientalistas Dorothy Stang e Chico Mendes.

“Basta aos que discursam propagando o ódio”, disse Maria do Rosário sob os aplausos de parte plateia. “Os que puxam o gatilho são os que fomentam o ódio”, completou.

Por questões óbvias e amplamente conhecidas a esquerda não perdeu a oportunidade de transformar uma tragédia decorrente da insegurança em pauta eleitoral. Afinal, os esquerdistas temem ser massacrados nas urnas depois dos seguidos escândalos de corrupção patrocinados pelo Partido dos Trabalhadores e seus “puxadinhos ideológicos”.

Marielle Franco não foi assassinada por ser mulher, negra, de origem pobre e defensora das minorias. A vereadora do PSOL morreu porque no Brasil denunciar é um jogo bruto e pesado, que exige compromisso com o País, coragem, determinação sem fim e atenção redobrada, além de destemor em relação à morte. Sem ter à mão esse coquetel do quase impossível, o melhor é não entrar no jogo.

Denunciar políticos, autoridades e integrantes do crime organizado não é tarefa fácil e simples, mas esse gesto de cidadania não justifica um ato criminoso. Mesmo assim, só mesmo um desavisado para acreditar que no Brasil esse tipo de atitude não produz consequências indesejáveis. Todos sabem da dura realidade que permeia as denúncias, mas os políticos preferem faturar em cima do cadáver de Marielle Franco.

A bizarrice que embala o oportunismo dos políticos é tamanha, que o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) encaminhou ao presidente da Câmara pedido de criação de uma comissão externa para acompanhar as investigações dos assassinatos, solicitação que foi atendida prontamente por Rodrigo Maia, que está de olho nos votos das favelas cariocas.

É importante ressaltar que o assassinato de Marielle Franco não foi um crime político, mas fruto de denúncias que incomodaram criminosos. Se a moda pega, a Câmara dos Deputados terá de criar uma comissão externa para cada assassinato ocorrido no Rio de Janeiro.

Visivelmente abalado, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) também discursou. “Perdi uma companheira de luta, estamos aos pedaços, mas não vamos esquecer”, disse. O deputado, apoiado pelo PT, PCdoB, PSB e PSOL, encaminhou a Maia um pedido de criação de uma comissão externa para acompanhar as investigações dos assassinatos, solicitação que foi atendida pelo presidente da Casa.

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