(*) Carlos Brickmann
Por pouco, muito pouco, a expressão “Depois de mim virá quem bom me fará” não se confirma de novo: no quesito “que é que quis dizer”, Dilma continua imbatível. Mas quem veio logo depois, Michel Temer, mostra-se competitivo na confusão verbal. Ontem, dia em que festejou dois anos de governo, quis lançar um slogan-bumerangue: “O Brasil voltou, 20 anos em 2”. Duplo sentido: pode significar que o Brasil voltou 20 anos. Ele desistiu.
Temer ensaia há tempos seu lado Dilmo. Há um ano, na reunião do G20, disse que estava “fazendo voltar o desemprego”. Na mesma época, explicou por que o Ministério do Trabalho indicava a redução do desemprego e o IBGE falava em aumento: “Não é que o desemprego aumentou. É que o desempregado, quando a economia começa a melhorar, ele, que estava desalentado, portanto, não procurava emprego, ele se transforma em um alentado. Ele vai procurar emprego. Como não há emprego para todos ainda, ele não consegue o emprego e isso entra na margem do cálculo do IBGE.”
Até dá para entender. Mas o slogan “Ordem é Progresso” pode indicar que a Coreia do Norte progride rapidamente. E a última, de ontem, é notável: o Twitter oficial do Governo Michel Temer traduziu para o inglês, no “Brazil Gov News”, o nome do cônsul-geral em Nova York, Enio Cordeiro. Ele foi transformado em “Ernie Lamb”.
Data vênia, professor, homenageá-lo-emos como Dilmo com Mesóclise.
Matéria de memória
Michel Temer não está sozinho: além da companhia de Dilma, desfruta da solidariedade, em sua busca por um mundo paralelo, de mais uma estrela oposicionista. Manuela d’Ávila, candidata do PCdoB ao Planalto, disse que os governos militares foram “mais nacionalistas” que o atual. Pois este colunista se lembra de Juracy Magalhães, ministro das Relações Exteriores e da Justiça no Governo militar do marechal Castello Branco, afirmando que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
Matar ou morrer
É difícil entender o raciocínio dos que condenam a correta reação da PM Kátia Sastre, que matou o bandido armado que assaltava mães e crianças à porta da escola. Kátia agiu como agiria qualquer mãe, defendendo a filha; como qualquer pessoa, defendendo a própria vida; como policial, defendendo gente ameaçada. O policial, como o médico, é policial dentro ou fora do expediente.
Qual a alternativa que tinha? Fingir que não era com ela nem com sua filha? Fingir que não era policial? Na hora em que o bandido abrisse sua bolsa e encontrasse a arma e o distintivo, seguiria a Lei do Cão: iria matá-la, por ser policial. E quem, dos que a condenam, pelo menos iria ao enterro?
Ah, mas não precisava atirar no peito. Poderia atirar no braço, no joelho (alvos menores e mais difíceis). Em combate, e era disso que se tratava, é preciso neutralizar o inimigo. O tiro no peito o detém. Mesmo assim, ele atirou nela duas vezes. Parabéns, PM Kátia! E, sr. governador Márcio França, quando irá promovê-la por mérito e bravura?
Imprensa livre
O Supremo acaba de cassar duas decisões de instâncias inferiores que afrontavam a liberdade de imprensa. A primeira decisão derrubada é da juíza da comarca de Fortaleza, que proibia a Editora Três de divulgar notícias sobre uma investigação criminal que, supõe-se, envolveria o ex-governador Cid Gomes, irmão do candidato presidencial Ciro Gomes. A decisão mandava também apreender uma edição de 2014 da revista IstoÉ.
A segunda decisão cassada é da 7ª Vara Cível de João Pessoa: mandava remover postagens de uma jornalista sobre o governador paraibano Ricardo Coutinho (PSB). Diz o ministro Luís Roberto Barroso: “A personalidade pública dos envolvidos, a natureza e o interesse públicos no conhecimento do suposto fato, noticiado em jornal local, são inegáveis” (…) negar o exercício do direito de manifestação implicaria a intimidação não só da reclamante, mas de toda a população, que restaria ainda mais excluída do controle e da informação sobre matérias de interesse público”.
Sem censura
Outra decisão em favor da liberdade de imprensa: o advogado do hotel Maksoud Plaza pediu que a revista Veja fosse impedida de publicar, neste próximo fim de semana, reportagem sobre denúncias contra os administradores da empresa. O repórter de Veja nada comenta; diz apenas que o assunto é bom e deve repercutir. O pedido de liminar para impedir a publicação foi rejeitado em primeira e segunda instâncias, e nada impede Veja de divulgar a matéria na edição deste final de semana.
O repórter não revelou os temas principais. Quem quiser saber, veja a revista.
Correção
A assessoria de Armando Monteiro Neto nega que ele tenha desistido de concorrer ao Governo pernambucano. Sua candidatura, assim, está de pé.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.