Gleisi faz-se de vítima e ignora os tempos em que o PT defendia a condenação de adversários sem prova

Como esperado, após julgamento da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), a presidente nacional do partido dos Trabalhadores, senadora Gleisi Helena Hoffmann, surgiu em cena nesta quinta-feira (21) para exalar inocência, como se não fosse ré por corrupção em outras ações penais. A parlamentar petista foi absolvida pela Segunda Turma dos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e caixa 2.

Enquanto a parlamentar petista abusa da vitimização, alegando que teve a moral achincalhada desde as acusações feitas por delatores da Operação Lava-Jato, o STF continua debruçado sobre três inquéritos respaldados por inquestionáveis conjuntos probatórios.

A primeira denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República envolve a empreiteira Odebrecht, que nas planilhas de propina mencionava Gleisi Helena sob o sugestivo codinome “Amante”. A segunda denúncia, igualmente grave, tem como ementa o chamado “Quadrilhão do PT”, esquema de corrupção que, de acordo com as investigações, beneficiou “companheiros” da cúpula da legenda. E Gleisi consta desse rol sob a acusação de corrupção e lavagem de dinheiro.


A terceira denúncia envolve o marido da senadora, o ex-ministro Paulo Bernardo Silva (Planejamento e Comunicações), acusado pela Polícia Federal de comandar um esquema criminoso que subtraiu mais de R$ 100 milhões de servidores federais da ativa e aposentados que recorreram a empréstimos consignados por meio do sistema Consist. Parte dos recursos foi usada para custear despesas pessoais da presidente do PT, como salário do motorista e brinquedos para os filhos.

O mais aviltante nessa epopeia é o palavrório de Gleisi Helena, que nesta quinta-feira, em Curitiba, ousou afirmar que “não se pode condenar ninguém sem provas”. Não se trata de adotar no Brasil a mesma prática empregada por ditaduras comunistas (Cuba e Venezuela), onde adversários dos respectivos regimes são condenados sem direito à ampla defesa e ao contraditório, mas de reconhecer que o modus operandi da política nacional passa obrigatoriamente pelo universo da corrupção. E Gleisi só foi absolvida porque a Segunda Turma do STF é condescendente demais com políticos que usam o mandato para a prática de crimes.

Como sempre acontece no PT, os “camaradas” esquecem de combinar o discurso ou simplesmente ignoram declarações pretéritas. Certa feita, no plenário da Câmara dos Deputados, o agora condenado e preso José Dirceu disse que para cassar um mandato parlamentar não era preciso prova, mas apenas indícios. Essa declaração se deu durante votação no plenário para decidir sobre a cassação do mandato do então deputado Ricardo Fiúza (PFL-PE), acusado de participar do escândalo de corrupção que ficou conhecido como “Anões do Orçamento” (1993). Falecido em dezembro de 2005, Fiúza foi absolvido por seus pares.

O episódio acima mostra que os petistas são devotos fervoroso da tese “aos amigos, tudo, aos inimigos, a lei”. Que nenhum brasileiro de bem sinta-se desanimado diante da decisão da Segunda Turma do STF, pois a máscara de Gleisi Hoffmann há de cair em breve. Enquanto isso, a senadora poderia explicar a decisão de nomear um pedófilo condenado a mais de cem anos de prisão para o cargo de assessor especial da Casa Civil.