(*) Ucho Haddad
Tomo emprestado trechos do poema “Vitória da Vida”, de Manuel Bastos Tigre, para emoldurar este texto. Tão profundo quanto verdadeiro, além de ser fiel ao português castiço, o que me encanta sobejamente, Bastos Tigre morreu em 1957, um ano antes de minha estreia na vida. E seu poema é sempre atual, em especial na temporada de crise quase sem fim que vivemos.
“Vitória da Vida” pontuou minha infância, quando ainda cursava o primário, à porta do outrora exame de admissão. O poema ressurgiu no pensamento porque mais parece a radiografia de um sonho que tornou-se realidade. Em 17 de julho de 2001, ainda redescobrindo o Brasil (sem ter vocação para Cabral, o Pedro Álvares), decido enveredar na seara do jornalismo cibernético. Não foi por acaso, também não foi por ocaso profissional. Pelo contrário, foi algo planejado durante anos e a partir de longa temporada de estudos sobre o universo sem fronteiras que é a internet.
Quando, de volta ao Brasil, apenas para ajudar o País a mudar, anunciei a decisão de criar o que hoje é o UCHO.INFO, ouvi de tudo um pouco e mais um pouco. De todos, de amigos, de enxeridos, de invejosos, de acomodados. Recebi com humildade o desdém daqueles quadrienais que se descobrem patriotas apenas na Copa do Mundo. Rebati com firmeza os ataques de detratores que despontaram no cenário. Se por um lado alguns poucos visionários incentivaram a iniciativa, por outro a maioria tentou convencer-me de que tratava-se de uma grande besteira, que levaria a nada. E logo veio à mente um trecho de “Vitória da Vida”:
“Muitas empresas esboroam-se em fracasso / Ainda antes do primeiro passo; / Muitos covardes têm capitulado / Antes de haver a luta começado…”
Não me deixei abalar pelos comentários desanimadores e decidi lutar, levar adiante um projeto profissional que frequentava com assiduidade o sonhar. Afinal, minha crença no jornalismo como ferramenta de mudança estava intacta. E assim permanece. Lutarei através das letras até quando for possível, sempre em nome do Brasil. Para tal é preciso pensar grande, agindo com o necessário comedimento, sem temer o adversário. Ao traçar tal plano, de novo o poema de Bastos Tigre veio ao pensamento:
“Pense grande e os teus feitos crescerão / Pense pequeno e irás depressa ao chão. / O querer é o poder onipotente, / É a decisão firmada em tua mente”.
Não poderia pensar diferente naquele momento, pois enorme era o desejo de devolver ao País um novo fio de esperança. Assim agi e pensei, não para ter a sensação da vitória – que é dos brasileiros, não minha –, mas para ver o Brasil dar os primeiros passos rumo à mudança. Mudar é preciso, sempre! E o Brasil tem uma longa estrada a percorrer. Fiz o que me cabia – e ainda faço –, mesmo sendo incompreendido pelos intolerantes.
Jamais pensei na possibilidade de chegar tão longe, mesmo ciente de que a missão seria árdua e demorada. Em muitas ocasiões imaginei que em dado momento passaria o bastão. Hoje tenho a sensação de que chegará o dia do ponto final. Escrever com a alma é privilégio de poucos, escrever com dedicação é um desafio diário. Escrever com amor é uma dádiva, é trabalhar sem sentir. Dessa maneira, apenas dessa maneira, é que tenho estado à frente do UCHO.INFO, que agora ingressa no seu décimo sétimo ano.
Dediquei-me muito além do limite para escrever para o Brasil e pelo Brasil. Contemplei à distância momentos pessoais importantes, estive longe de pessoas infinitamente caras. Eis o preço do ofício que escolhi e da missão que me impus. Fiz porque quis, não saberia fazer diferente. Faria tudo de novo, do mesmo jeito e sempre. Continuarei fazendo a cada novo dia, sempre igual e ao mesmo tempo diferente.
Ao longo da estrada contei com parceiros imprescindíveis, alguns inenarráveis. Muitos continuam ao meu lado, outros se foram, até porque a vida exige muito mais do que imaginamos. A esses serei sempre grato. Deparei-me com traidores, aos quais desejo o bem, pois covardia não tem cura.
Enfrentei contrariados com o nosso jornalismo, mas deles soube esquivar-me com destreza e fidalguia. Jamais curvei-me diante de ameaças e intimidações, apesar de muitos trôpegos terem recorrido a esses expedientes rasteiros. E mais uma vez, como de costume, “Vitória da Vida” veio à baila:
“Fraco é aquele que fraco se imagina, / Olha ao alto o que ao alto se destina, / A confiança em si mesmo é a trajetória / Que leva aos altos picos da vitória.”
Ter aqui chegado não considero vitória, mas a sensação do dever cumprido entorpece. Desistir é verbo que desconheço como conjugar, fraqueza há muito foi excluída do dicionário. Confiança foi o que permitiu chegar tão longe. Podendo avançar ainda mais, confiança, determinação e destemor não me faltarão.
Escrevo sobre o Brasil e para os brasileiros porque acredito no compromisso assumido. Por isso lanço o desafio diário de superar a mim mesmo, apenas isso. Meu maior e único concorrente sou eu, porque quero escrever cada vez melhor. Para o Brasil, para os brasileiros.
Escrevo com quase teimosia porque é o que sei fazer de melhor, talvez porque não saiba fazer outra coisa. Porque é necessário apresentar a cada um a realidade do fato, com opinião responsável, sem distorcer a verdade. O que parece simples, muitas vezes torna-se quase impossível na esteira do desejo não contemplado de um leitor. Ser contundente como jornalista não permite ser leviano na informação. Abomino jornalismo de encomenda, não tergiverso diante dos fatos. Por isso contrariar alguns (às vezes muitos) faz parte do cotidiano.
A estrada foi longa, extenuante e surpreendente. Curvas sinuosas demais, abismos assustadores. Descidas inesperadas, subidas desafiadoras. Horizontes carrancudos, temporadas sem luz, mas com esperança e confiança em dias iluminados e melhores. Nada foi fácil. E assim continua. Ainda bem que assim segue, porque vale muito a pena. Que não me faltem penas para escrever.
Depois de 16 anos de incansável luta diária, descubro que é preciso fazer mais, muito mais. Até quando, não sei, mas tenham a minha promessa de que farei. A todos que me acompanharam até aqui, muito obrigado. Aos que continuarão ao meu lado de agora em diante, muito obrigado. Aos que ainda hão de chegar para reforçar o time, muito obrigado desde já. Aos que duvidaram, principalmente, muito obrigado. Aos que torceram contra, muito obrigado. Aos que leram de vez em quando, muito obrigado. Aos que leram sem parar (continuem lendo), muito obrigado. A todos, muito obrigado. A cada um, muito obrigado. Sempre, para sempre!
Comemorando mais um ano de UCHO.INFO, o décimo sétimo, que já começou, não poderia, para encerrar, deixar de apelar a novo trecho do poema “Vitória da Vida”, a mais completa tradução do meu pensamento e da minha crença no que faço. Do meu jeito, no meu tempo, na minha velocidade.
“Nem sempre o que mais corre a meta alcança, / Nem mais longe o mais forte o disco lança. / Mas o que, certo em si, vai firme em frente, / Com a decisão firmada em sua mente.”
(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta e fotógrafo por devoção.