Com dificuldade para encontrar um candidato a vice, Bolsonaro está isolado em seu projeto eleitoral

Travestido de direitista moderado, o deputado federal Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência da República, continua enfrentando dificuldades para, no vácuo de aliança político-partidária, conseguir um candidato a vice. O que, dependendo da legenda aliada, significa mais tempo de televisão.

A flexibilidade ideológica de Bolsonaro na escolha do candidato a vice manda por terra o seu discurso moralista e truculento, cuja receita é resolver os problemas do País à base do pé de cabra. Na esperança de ter mais tempo de televisão durante a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro começou a flertar com o Partido da República, cujo “dono” é Valdemar Costa Neto, o Boy, condenado à prisão por corrupção na Ação Penal 470 (Mensalão do PT).

Essencialmente fisiológico, Costa Neto é o que há de pior na política nacional, principalmente porque sua ideologia está baseada na troca de apoio político por cargos na máquina federal. E foi assim durante os governos petistas. No caso do PR, Bolsonaro apostava no nome do senador Magno Malta (ES) para fazer dupla, mas o parlamentar capixaba acabou desistindo a empreitada.

Diante do impasse envolvendo o PR, Bolsonaro tratou de vazar a informação de que seu candidato a vice seria o general reformado Augusto Heleno, do Partido Republicano Progressista (PRP). Tudo ia bem, até que na noite de terça-feira (17), em um hotel de Brasília, o PRP anunciou que Augusto Heleno não comporia a chapa liderada por Bolsonaro.


A dificuldade de Bolsonaro para encontrar um candidato a vice demonstra que o presidenciável do PSL está perdido e sofrendo as consequências da sua inabilidade para articulação política. Decidido a jogar para o eleitorado, Jair Bolsonaro passou a cortejar a advogada Janaína Paschoal, uma das signatárias do pedido de impeachment de Dilma Rousseff.

O plano de ter uma mulher como candidata a vice serve para amenizar os discursos bizarros e intolerantes de Bolsonaro em relação ao universo feminino, manobra que não deve surtir o resultado esperado. O empecilho maior nessa estratégia está no fato de Janaína Paschoal ser filiada ao PSL.

Uma chapa pura, como supostamente pretende Bolsonaro, é desaconselhável porque não dá à candidatura mais tempo de televisão. A se confirmar essa informação, Jair Bolsonaro terá menos de dez segundos de televisão para convencer os eleitores brasileiros sobre sua disposição de chegar ao Palácio do Planalto. Quem conhece minimamente o cenário eleitoral do País sabe que esse tempo é exíguo, insuficiente até mesmo para balbuciar uma frase mais longa.

Quando passou a cortejar o PR, Bolsonaro sonhava com os dois minutos diários de rádio e televisão a que o partido tem direito. Sem isso, o candidato do PSL terá de apostar todas as fichas nas redes sociais para alavancar a candidatura e manter os atuais índices de intenção de voto. A estratégia com poucas chances de sucesso, pois é pouco tempo de campanha para convencer eleitores através das redes sociais. Ou seja, na atual realidade eleitoral brasileira os presidenciáveis são reféns do tempo de televisão.

Há nesse cenário uma dicotomia perturbadora. No entourage de Bolsonaro, entusiastas e assessores garantem que o candidato conta com o apoio de pelo menos 110 deputados federais dos mais variados partidos, os quais até o momento não se apresentaram. Ora, se isso é verdade, os tais parlamentares não têm voz em seus respectivos partidos ou a informação é improcedente.