Bolsonaro mostra indigência intelectual ao ensinar criança a fazer sinal de arma de fogo com os dedos

(Mais Goiás)

Que Jair Bolsonaro, presidenciável do PSL, deseja resolver os problemas do País à força e à bala todos sabem, mas essa não é a receita mais recomendada para uma nação cuja população é movida pelo despreparo e pela intolerância crescente.

Não bastasse a inequívoca condição de isolamento em que se encontra, até porque sua necessidade de articulação esbarra no radicalismo, Bolsonaro não precisou de muito tempo para, durante visita a Goiânia, ensinar uma criança a fazer o sinal de uma arma de fogo usando os dedos polegar e indicador. O momento dessa bizarrice foi registrado em vídeo, que ganhou as redes sociais e causou polêmica aos bolhões.

Em cima de um carro de som, enquanto discursava para integrantes do seu fã-clube, Bolsonaro segura uma menina no colo e, sem esconder sua satisfação, ensina a menor a usar os dedos da mão para simular uma arma. Na sequência, o candidato ao Palácio do Planalto faz o mesmo gesto, que simboliza sua truculência existencial.

Não é novidade a devastadora preguiça política do brasileiro, mas é inaceitável que um postulante ao mais alto cargo da nação tenha comportamento tão pífio e condenável. No momento em que o Brasil enfrenta a escalada da intolerância, incutir no pensamento de uma criança o conceito armamentista é no mínimo crime.

A situação ficou ainda pior quando o deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO), que acompanhava Bolsonaro na carreata, tentou justificar o fato. O parlamentar alegou ao jornal “O Globo” que “para as pessoas de bem” o gesto com os dedos não representa o ato de empunhar uma arma, apenas “para bandidos”.


A fanfarronice discursiva ganhou contornos de magnitude quando o parlamentar do PSL afirmou que o referido gesto simboliza “ser cristão”. “Tem que fazer a distinção. Para as pessoas de bem (o gesto) é coragem, honestidade, ser patriota. Mas para o bandido pode ser uma arma”, disse o deputado delegado Waldir.

Não obstante, o deputado chamou para si a disseminação do gesto entre a opinião pública, como se a capacidade de raciocínio do brasileiro fosse próxima de zero. “Uso os dedos, é uma marca registrada minha. É um símbolo de ser cristão, de ser patriota, mas se alguém está tentando traduzir isso como uma arma, as pessoas estão equivocadas”.

O deputado Delegado Waldir pode alegar o que quiser, mas a cena registrada em vídeo se deu em ato antecipado de campanha em que Bolsonaro prometeu, se eleito, liberar o porte de arma. ““Vamos fortalecer a nossa liberdade, vamos conseguir porte de arma de fogo para vocês”, disse o presidenciável.

Na quinta-feira (19), em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, o empresário Horácio Lafer Piva disse que o problema de Bolsonaro é “civilizatório”. “O problema do Bolsonaro é civilizatório. O Brasil retrocederia neste ponto e voltaria a discutir temas como gênero, segurança… O Brasil não precisa disso”, declarou Piva.

Por certo muitos dos seguidores do presidenciável condenaram tal afirmação, até porque são tomados por uma cegueira política que é embalada por um esdrúxulo pensamento binário, mas é preciso reconhecer que o vídeo em questão mostra que Lafer Piva está certo.

Diante da pífia desculpa dada pelo deputado Delegado Waldir, correligionário de Bolsonaro, só resta invocar a declaração do poeta português Manuel Maria Barbosa de Bocage ao receber solicitação de um jovem escritor para corrigir soneto de sua lavra. Após ler o texto e deparar-se com a impossibilidade de corrigi-lo em função da quantidade de erros, Bocage disparou: “A emenda ficaria pior do que o soneto”.