Crítica de Janaína Paschoal aos convertidos à seita de Bolsonaro mantém impasse sobre vice

Para os aduladores do ultrarradical Jair Bolsonaro – na verdade integram uma seita de convertidos obtusos que não aceitam o contraditório – o candidato do PSL à Presidência da República é o salvador da pátria, algo que ele próprio já descarta diante das dificuldades inerentes ao cargo a ser ocupado por aquele que vencer a corrida do Palácio do Planalto.

Confirmado como candidato oficial do partido à Presidência, Bolsonaro tentou adotar um discurso mais morno e manso durante a convenção do partido, no Rio de Janeiro, mas fora do seu gueto a candidatura não convence, em especial na seara das alianças políticas.

Ainda sem ter uma chapa completa, Bolsonaro segue à procura de um candidato a vice, depois de ouvir em poucos dias dois nãos – do senador Magno Malta (PR-ES) e do general da reserva Augusto Heleno Ribeiro (PRP), apesar de ter sondado o também general da reserva Hamilton Mourão, filiado ao nanico PRTB. O entrave para avançar as negociações com Mourão é o próprio partido, que está preocupado com a cláusula de desempenho. Ou seja, Mourão já é carta fora do baralho de Bolsonaro.

Diante do impasse, Jair Bolsonaro, o ultrarradical travestido de liberal, passou a flertar com a advogada Janaína Paschoal, signatária do impeachment de Dilma Rousseff, ao lado do renomado jurista Miguel Reale Júnior.

Filiada ao PSL, Janaína participou da convenção do partido na capital fluminense, ocasião em que afirmou estar pensando na possibilidade de aceitar o convite para ser candidata a vice na chapa liderada por Bolsonaro, que continua abandonado. Aliás, até agora as Forças Armadas não deram qualquer sinalização em favor do candidato do PSL, o que causa estranheza ou, então, esclarece muitas dúvidas.


Longe da sua conhecida e histriônica estridência, Janaína Paschoal foi a voz da lucidez em meio ao obscurantismo que tomou conta da seita em que se transformou a legião de seguidores de Jair Bolsonaro. A advogada disse que é preciso flexibilizar o diálogo com atores políticos que tenham opiniões divergentes, ou seja, evitar o radicalismo.

“Não se ganha eleição com pensamento único. Não se governa uma nação com pensamento único. Os seguidores, muitas vezes, do deputado Jair Bolsonaro têm uma ânsia de ouvir um discurso inteiramente uniformizado. Pessoas só são aceitas quando pensam exatamente as mesmas coisas. Reflitam se não estamos fazendo o PT ao contrário”, disse Janaína Paschoal, que por certo caiu em desgraça entre os “bolsonáticos” (o termo é da lavra do jornalista Carlos Andreazza).

Preocupada com a governabilidade em um cenário sem abertura ao diálogo, Janaína mandou mais um recado claro aos seguidores do radical Bolsonaro: “Nós temos que somar. Não haverá vitória, e se houver a vitória, não haverá governabilidade. Temos que pensar nos dois momentos”.

“Temos um povo multifacetário. Às vezes um grupo concorda com outro num ponto e discorda em outro. Se construirmos um quadradinho e quisermos que todo mundo esteja dentro desse quadrado, estamos limitando a possibilidade de vitória e a possibilidade de governar”.

Diante das declarações de Janaína Paschoal, pode-se afirmar que Jair Bolsonaro terá dificuldade para encontrar um candidato a vice, principalmente porque a resistência ao nome da advogada cresce nas últimas horas entre os integrantes da seita. Aliás, é preciso ressaltar que Bolsonaro pinçou o nome de Janaína não por convergência ideológica e outros quetais, mas porque viu na advogada uma chance de minimizar as críticas que recebe há anos do eleitorado feminino.