Bolsonaro muda de ideia, diz que participará de três de debates e deixa os convertidos na mão

“Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe.” Eis o provérbio português que serve para amainar os ânimos e trazer os mais afoitos à realidade, mesmo que a bizarrice seja a mola existencial do cidadão.

Na quarta-feira (22), em entrevista ao portal UOL, o presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebbiano, disse que o deputado federal Jair Bolsonaro, candidato do partido à Presidência da República, não mais participaria dos debates entre presidenciáveis. Como se fosse oráculo de Aladim, o folclórico gênio da lâmpada maravilhosa, Bebbiano disse que, longe de ser uma estratégia, a decisão era resultado de uma constatação. “Não se trata de uma estratégia, se trata de uma constatação. Nós imaginávamos que, de alguma forma, esses debates pudessem acrescentar alguma coisa”.

Menos de 24 horas depois, o que era definitivo mudou de cenário. Nesta quinta-feira (23), em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Bolsonaro confirmou que participará de três debates TV Gazeta/ Estadão, SBT/ Folha e Rede Globo. Para quem até horas atrás, por meio de interlocutores, rotulava os debates como uma grande palhaçada, Jair Bolsonaro é extremamente volúvel em termos de opinião.

Fugir dos debates em época de eleição é uma estratégia equivocada, talvez seja uma decisão suicida até mesmo para quem lidera as pesquisas eleitorais com larguíssima margem de vantagem. No caso de Bolsonaro, que pode ter alcançado o teto das intenções de voto e precisa evitar o avanço do seu índice de rejeição, participar dos debates é essencial.


Logo após o anúncio de que Bolsonaro desistira de participar dos debates entre presidenciáveis, seguidores ensandecidos invadiram as redes sociais para, de forma agressiva, afirmar que a decisão foi tomada a pedido dos convertidos. Somente um desavisado é capaz de acreditar que militantes podem mudar os rumos de uma campanha eleitoral.

A campanha de qualquer candidato trabalha à base do “termômetro”. Com a mudança da temperatura corrige-se a rota para evitar surpresas. Gostem ou não os convertidos, a participação de Bolsonaro no debate da RedeTV foi desastre, o que levou a coordenação da campanha a desistir dos próximos encontros. Diante da repercussão negativa da decisão, adotaram um “cavalo de pau” suave e anunciaram a participação em três debates, os principais.

Como tudo na vida de Jair Bolsonaro tem uma desculpa, na maioria das vezes esfarrapada, o candidato alegou que a participação em debates exige muita preparação, o que consome tempo e atrapalha o cronograma de sua campanha – imagine, caro leitor, a extensão do desastre se não houvesse a tal preparação.

Bolsonaro disse ao Estadão que seus adversários participam dos debates porque deixam de percorrer o Brasil e não têm a recepção calorosa dos convertidos. Alguém que se vale de desculpa tão obtusa e tacanha para justificar sua ciclotímica capacidade de decisão não tem condições de governar o País.