Depois do desastre na RedeTV, Bolsonaro “foge da raia” e desiste de participar dos próximos debates

Candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro tem 22% das intenções de voto quando o nome do petista Lula não é citado nas pesquisas de opinião, mas o elevado índice de rejeição, na casa de 39%, preocupa sobremaneira o capitão reformado do Exército e seu staff de campanha.

Por conta desse cenário atual, que já ameaça uma eventual vitória no segundo turno – o que era dado como certo –, Bolsonaro resolveu fazer um ajuste na rota da campanha: escolheu a candidata Marina Silva como alvo, depois da carraspana do debate na RedeTV, e escolheu a solidariedade como tema de seus discursos. Para quem vinha falando em “meter o pé na porta”, a farsa será maior do que se imaginava.

Mas a questão maior não é esse embuste produzido pelos marqueteiros de Bolsonaro, que agora querem vesti-lo com o falso manto do “paz e amor”, como se isso fosse uma verdade. Jair Bolsonaro decidiu não comparecer aos demais debates entre candidatos à Presidência da República. A informação foi dada pelo presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebbiano. Para o dirigente da legenda, caso o candidato participe de algum debate será uma “exceção”.

“Não se trata de uma estratégia, se trata de uma constatação. Nós imaginávamos que, de alguma forma, esses debates pudessem acrescentar alguma coisa, mas são debates naqueles formatos antigos”, justificou Bebbiano em entrevista ao portal UOL, em Presidente Prudente, cidade do Oeste paulista.

O presidente do PSL tem o direito de dizer que não se trata de estratégia, mas está claro que a participação de Bolsonaro nos debates é um desastre para a sua candidatura, mesmo que seus seguidores invadam as redes sociais com elogios farsescos e encomendados. Jair Bolsonaro é sabidamente despreparado e qualquer pergunta mais elaborada escancara sua incapacidade para comandar um país com tantos problemas.

A tentativa de Gustavo Bebbiano de esconder o real motivo da decisão de não comparecer aos próximos debates ficou evidente nem outra declaração: “Os candidatos são todos ali personagens que têm soluções milagrosas para o Brasil, como se fosse tudo muito fácil. E o deputado Bolsonaro tem uma outra posição. A posição dele não é apresentar soluções fáceis, mas novos direcionamentos para um Brasil que está sofrendo com a esquerdopatia, que está aí há mais de duas décadas, que está sofrendo com uma epidemia de assassinatos”.


Ao que parece, estupidez é a marca registrada do PSL, pois nada pode ser mais absurdo do que a fala de Bebbiano. Afirmar que os outros candidatos têm “soluções milagrosas para o Brasil” e que Bolsonaro “não quer apresentar soluções fáceis” é subestimar a capacidade de raciocínio da opinião pública.

Vamos aos fatos: 1) Quando questionado sobre como reduzir a mortalidade infantil, Bolsonaro disse que as gestantes deveriam cuidar da saúde bucal. 2) Questionado sobre como combater a violência no País, afirmou, como sempre, que todo cidadão tem direito ao porte de arma. 3) Perguntado sobre como reduzir a diferença salarial entre homens e mulheres, disse que esse tema consta na CLT e que o melhor é não interferir no mercado. 4) Perguntado sobre como administrar o orçamento da União, sendo que metade dos recursos é usada para encargos da dívida (rolagem da dívida e parte dos juros – que não são pagos), enrolou como pode, mas, entre tantos devaneios, defendeu a boa relação entre empregadores e empregados.

Bolsonaro não sabe o que diz nos debates, até porque é despreparado para o cargo que almeja conquistar – ele próprio reconhece que não domina vários assuntos e sempre cita os “postos “Ipiranga” –, mas os outros candidatos é que apresentam soluções milagrosas? Não é novidade que em campanhas eleitorais candidatos prometem além da capacidade de realização, mas quem tem citado trechos da Bíblia para “encher linguiça” é Bolsonaro.

Dono de temperamento explosivo e pavio curto, Jair Bolsonaro não aceita o contraditório e se irrita quando confrontado por adversários ou jornalistas. No debate da RedeTV, sua participação foi pífia, talvez uma das piores. O episódio da “cola” durante formulação de pergunta à candidata Marina Silva rendeu dividendos negativos e o candidato foi motivo de chacotas nas redes sociais. Talvez pelo tamanho do estrago a coordenação da campanha tenha decidido abrir mão dos próximos debates.

De acordo com os números das recentes pesquisas eleitorais, Jair Bolsonaro pode ter alcançado o teto em termos de intenções de voto, por isso precisa evitar o crescimento do índice de rejeição, que não é pequeno. A não participação nos debates pode ser uma saída, mas, queira ou não o seu staff, isso tem um ônus a ser enfrentado.