MEC e editora provam que Bolsonaro mente ao rotular livro como pornográfico e falar sobre “kit gay”

Candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro é um despreparado conhecido que não aceita ser contrariado, mesmo diante de provas incontestáveis. Quando isso acontece, o presidenciável reage de maneira quase colérica, postura que vem se repetindo com certa frequência nos últimos tempos.

Disse Hubert Humphrey, vice-presidente dos Estados Unidos no mandato de Lyndon Johnson: “Errar é humano. Culpar outra pessoa é política”. Bolsonaro enquadra-se perfeitamente no conceito dessa frase de Humphrey, além de não ter humildade para reconhecer o próprio erro.

Depois de fazer enorme barulho sobre um determinado livro que teria sido inserido em suposto “kit gay”, a ser distribuído em escolas públicas, Jair Bolsonaro tentou exibir a publicação na entrevista concedida ao Jornal Nacional, na noite de terça-feira (28), mas foi impedido pelos apresentadores porque isso viola as regras acertadas previamente com os assessores dos candidatos.

Bolsonaro, que é movido por um raciocínio tosco e binário, tem um estoque de respostas prontas e, via de regra, repete sempre as mesmas frases, até porque seu intelecto raso não permite voos maios altos do pensamento. Disse o candidato que o tal livro é um convite à homossexualidade e que “nenhum pai quer chegar em casa e ver o filho brincando de boneca por influência da escola”.

Nesta quarta-feira (29), a Companhia das Letras, que editou no Brasil o livro infanto-juvenil “Aparelho Sexual e Cia.”, afirmou que jamais a obra foi distribuída em escolas pelo Ministério da Educação.


“O conteúdo da obra nada tem de pornográfico, uma vez que, formar e informar as crianças sobre sexualidade com responsabilidade é, inclusive, preocupação manifestada pelo próprio Estado, por meio de sua Secretaria de Cultura do Ministério da Educação que criou, dentre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), um específico à ‘Orientação Sexual’ para crianças, jovens e adolescentes”, informou a empresa por meio de nota.

A Fundação Biblioteca Nacional, ligada ao Ministério da Cultura, comprou, em 2011, 28 exemplares do livro, distribuídos em bibliotecas públicas — não nas escolas, como afirma o candidato. Considerando a extensão territorial do Brasil, esse número de exemplares do livro representa quase nada se comparado ao estardalhaço que Bolsonaro faz apenas para tentar atrair o eleitorado conservador.

Lançado em 2007, o livro “Aparelho Sexual e Cia.”, de autoria de Zep (pseudônimo do escritor suíço Philippe Chappuis) é indicado para alunos de 11 a 15 anos, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Ou seja, alunos de uma faixa etária que precisam receber informações acerca do tema.

Sempre a reboque de sua conhecida estupidez, Jair Bolsonaro rebateu, nesta quarta-feira, a informação do Ministério da Cultura, apenas porque não aceita o contraditório. “O MEC tá mentindo, são uns canalhas. O livro é sim para ser distribuído nas bibliotecas como foi distribuído há mais de dois anos”, disse o candidato.

Entre ser conservador e retrógrado há uma considerável distância, mas no momento prevalece apenas o interesse do candidato e da turba que o idolatra, como se o País estivesse diante do imaculado. Orientação sexual, como propõe o livro de Zep, é algo ensinado nas escolas brasileiras há pelo menos meio século, mas Bolsonaro prefere entregar-se à polêmica, arma usual dos incompetentes.

A insistência de Jair Bolsonaro no tema da homossexualidade começa a chamar a atenção, já que a Psicologia considera a projeção como um mecanismo de defesa no qual os atributos indesejados de determinada pessoa são transferidos a terceiros. E o candidato deveria dedicar algumas horas para pensar no assunto.