Beatriz de Toledo Segall morreu nesta quarta-feira (5), aos 92 anos, em São Paulo. A atriz estava internada no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, e teve alta médica no último dia 21 de agosto, mas precisou de nova internação, sem que os motivos tivessem divulgados.
Um “monstro” da interpretação, a sempre elegante Beatriz Segall esbanjou talento no teatro, na televisão e no cinema ao longo de 70 aos de carreira, indo muito além da personagem Odete Roitman, que ela soube incorporar com tanta maestria e perfeição na novela “Vale Tudo” – de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères –, exibida em 1998 pela TV Globo.
Nascida em 25 de julho de 1926 no Rio de Janeiro, Beatriz Segall fez sua primeira peça durante um exercício na Aliança Francesa, quando foi convidada para tornar-se profissional. Recusou o convite por conta da desaprovação do pai.
Apesar da resistência da família, em 1950 Beatriz participou do filme “A beleza do diabo”, ocasião em que decidiu fazer um curso de interpretação. Em seguida, após participar de trabalho amador com atrizes que à época davam os primeiros passos na profissão, como Fernanda Montenegro e Nicette Bruno, Segall viajou para França, onde estudou teatro e literatura.
De volta ao Brasil, a atriz casa-se com o museólogo e autor teatral Maurício Segall, filho do artista Lasar Segall, com quem teve três filhos: o diretor de cinema Sérgio Toledo (que fez “Vera”, longa de 1986 que valeu a uma estreante Ana Beatriz Nogueira o Urso de Ouro de melhor atriz em Berlim), Mário (arquiteto e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie) e Paulo.
Em 1964 aceitou um papel no Teatro Oficina, quando substituiu Henriette Morineau em “Andorra”, dirigida por José Celso Martinez Corrêa. A partir desse momento, o teatro e a vida Beatriz Segall se confundem, como nas montagens “Os inimigos” (1965) – de Máximo Gorki, direção de José Celso Martinez Corrêa – , “Marta Saré” (1968) – de Gianfrancesco Guarnieri, pela companhia de Fernanda Montenegro, com quem dividiu o palco – e “Hamlet” (1969) – de William Shakespeare, dirigido por Flávio Rangel no Teatro Anchieta.
Com Maurício Segall, a atriz comandou o processo de recuperação do Theatro São Pedro, na capital paulista, o que permitiu montagens como “A longa noite de cristal” (1970), de Oduvaldo Vianna Filho, e “O interrogatório” (1971), de Peter Weiss. Em 1970, Maurício Segall foi preso e torturado por sua ligação com a Aliança Nacional Libertadora (ANL), grupo que aderiu à luta armada contra a ditadura militar.
Em 2002, no segundo turno da eleição presidencial, Beatriz Segall participou do programa eleitoral de José Serra, então candidato do PSDB, que disputava a Presidência da República com o petista Lula.
Na gravação a atriz disse: “Eu tenho medo. Como a Regina Duarte, também estou com medo de não poder dizer que estou com medo. De ser ameaçada de processo pelo simples fato de discordar.”
Beatriz e a TV Globo
A estreia de Beatriz Segall na TV Globo aconteceu em 1978, na novela “Dancin’ days”. No ano seguinte esteve na novela “Pai herói”, interpretando a vilã Norah. Em 1980, participou do premiado filme “Pixote, a lei do mais fraco”, dirigido por Hector Babenco.
Na TV Globo, seus últimos trabalhos foram na novela “Lado a lado”, em 2012, em que interpretou uma rica senhora francesa, Madame Besançon. Em 2015, esteve no seriado “Os experientes”, cujo enredo focava a vida na terceira idade.
Saúde
Em 2013, Beatriz Segall tropeço em uma calçada da Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro, e foi obrigada a permanecer em casa durante 20 dias em casa para se curar de um grande hematoma no rosto. O então prefeito Eduardo Paes pediu desculpas à atriz.
Em 2015, Beatriz caiu no palco durante a apresentação da peça “Nine – Um Musical Feliniano”, em São Paulo, quando feriu-se com gravidade. Naquela ocasião, a atriz passou por cirurgia no braço direito e foi substituída no espetáculo.
Segundo a assessoria de imprensa da atriz, Beatriz Segall morreu por volta de 12h. Ela será velada no próprio hospital a partir das 19h e o corpo será cremado nesta quinta-feira (6) em Cotia, na Grande São Paulo.