“Ministério da Família” pode ser prêmio a Magno Malta, sempre preocupado com a própria família

Escrever sobre Jair Bolsonaro e seu entourage tornou-se um perigo constante, pois os coléricos eleitores do próximo presidente rejeitam críticas e, na esteira do pensamento binário, não conseguem enxergar o óbvio. O que deveria ser encarado como um alerta para viabilizar um país melhor, na maioria das vezes é rotulado como uma persistente destilação de ódio e inveja, como se décadas de jornalismo político independente e isento nada representassem.

Em seus muitos discursos de campanha, Bolsonaro repetiu algumas vezes que a composição de sua equipe de governo teria como baliza a competência dos integrantes, ou seja, apenas notáveis seriam chamados para ocupar cargos de destaque.

É verdade que cada pessoa tem seu conceito de competência, mas estando a poucas semanas de assumir a Presidência da República é preciso pelo menos agarrar-se à coerência. Algo que, ao que parece, Bolsonaro não está a fazer.

Um dos entusiastas de primeira hora da candidatura do agora presidente eleito, o ainda senador Magno Malta (PR-ES), que fracassou em sua tentativa de reeleição, poderá ser contemplado um ministério. A pasta englobaria Desenvolvimento Social e Direitos Humanos e poderia receber o nome de Ministério da Família, decisão que vai ao encontro do discurso populista de Bolsonaro.

Se cada povo tem o governante que merece, o presidente da República sabe a equipe que forma. E o Ministério da Família talvez seja uma pasta sob medida para Magno Malta. Em julho de 2011, um escândalo de corrupção chacoalhou o Partido da República (PR) e acabou atingindo Malta.

Na ocasião, em meio a suspeitas de uso do Ministério dos Transportes para favorecer o Partido PR, Magno Malta apareceu como um dos candidatos da legenda beneficiados por empreiteiras responsáveis por obras irregulares.


Essas construtoras receberam R$ 78 milhões em créditos suplementares liberados pelo então ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos (PR), quando ele assumiu interinamente a pasta, em 2010. Dos mais de R$ 5 milhões doados tais empreiteiras a candidatos do PR, segundo reportagem da revista “IstoÉ”, o então líder do partido no Senado foi beneficiado com R$ 500 mil. Desse total, R$ 400 mil foram repassados à campanha à reeleição de Malta pela Serveng e outros R$ 100 mil pela construtora S.A. Paulista.

De acordo com reportagem da revista, as duas construtoras integram consórcio juntamente com a Carioca Engenharia, que recebeu R$ 20 milhões em créditos extras para a ampliação e reforma da BR-101 em um trecho da região metropolitana do Rio de Janeiro.

O empreendimento estava na lista de irregularidades graves do Tribunal de Contas da União (TCU), que identificou pagamentos antecipados, ausência de projeto executivo, fiscalização omissa e superfaturamento. As outras obras listadas são da BR-265 e da BR-317.

Os valores doados pelas empreiteiras constam na prestação de contas do senador ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele arrecadou R$ 2.811.759,23. A maior parte veio de construtoras, empresas de engenharia e mais de R$ 800 mil do diretório nacional do PR.

Na ocasião, Malta informou, por meio da sua assessoria, que todas suas doações foram declaradas e legais, que essas empresas não têm ligação com obras no Espírito Santo e doaram para sua campanha a partir da indicação de amigos e do PR.

O senador Magno Malta (PR) já havia sido citado no escândalo por conta de sua influência nos Transportes. O irmão dele, Maurício Pereira Malta, era chefe da assessoria parlamentar do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

Magno conseguiu emprego para o irmão (olheiro) após votação no Senado que aprovou a CPMF, o imposto do cheque, no governo Lula. O senador negou que tenha votado a favor do imposto a troco de emprego para o irmão em órgão estratégico para o PR.