Prestes a assumir o governo de SP, João Doria ainda não explicou escândalo da PPP da Iluminação

Gazeteiro profissional, o que lhe deu fama, sucesso e dinheiro na iniciativa privada, João Agripino da Costa Doria Junior (PSDB) tenta levar essa fórmula canhestra para a política, seara em que ele próprio diz ser estreante. Mesmo assim, Doria, que insiste em se apresentar como gestor, é um político de quatro costados, mas que adota o estilo truculento para fazer valer suas vontades.

Como afirmou Luiz Carlos Franco, seu ex-assessor na extinta Paulistur, o próximo governador paulista “é tão verdadeiro quanto nota de R$ 30,00, ou como o tingimento dos seus cabelos ou o botox que andou aplicando”.

Pois bem, durante a corrida ao Palácio dos Bandeirantes, João Doria aproveitou a onda antipetismo e modulou o discurso de campanha contra a esquerda e contra a corrupção, o que agradou parcela do eleitorado paulista, sempre pronto para comprar aquilo que desconhece.

Faltando seis semanas para assumir o cargo de governador do mais importante estado da federação, Doria continua “fazendo espuma” na seara política, repetindo o que fez ao longo de décadas na vida profissional, mas ainda não explicou o rumoroso escândalo de corrupção que inviabilizou a Parceria Público-Privada da Iluminação Pública da cidade de São Paulo. Um contrato inicialmente fixado em R$ 6,9 bilhões, pelo período de 20 anos, foi suspenso após de graves denúncias de corrupção.

Ciente de que irregularidades eram cometidas no processo licitatório para beneficiar o consórcio vencedor (FM Rodrigues/Consladel), Doria simplesmente ignorou os fatos, o que de chofre aponta na direção da prevaricação, crime punido com pena de detenção de 3 meses a 1 ano, além do pagamento de multa. Muita estranhamente, o Ministério Público paulista não colocou Doria no radar do escândalo.

Art. 319 (Código Penal) – Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.


A empresa FM Rodrigues, que liderava o consórcio vencedor, prestava (e ainda presta) à Prefeitura paulistana serviços de manutenção da iluminação pública e, segundo as provas entregues aos procuradores, pagava propina a integrantes do Ilume (Departamento de Iluminação Pública de São Paulo) para direcionar o processo da PPP em seu favor.

Então secretário municipal de Obras, atualmente à frente da Secretaria Municipal das Subprefeituras, Marcos Penido tinha conhecimento das irregularidades no processo e dava ordens para que algumas transgressões no bojo da licitação fossem cometidas, como demonstra e-mail abaixo obtido pelo jornal Folha de S.Paulo.

Muito estranhamente, Penido, que com a eclosão do escândalo e a saída de Doria da Prefeitura foi transferido para a Secretaria das Subprefeituras, levou para a nova pasta o Ilume, a quem compete cuidar do enrolado processo da PPP da Iluminação. Doria chegou a cogitar um convite para que Marcos Penido integrasse seu staff no Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista, mas diante da reação da mídia recuou. O que não significa que tenha desistido da ideia, que é um enorme absurdo.

João Doria, que à época do escândalo se limitou a dizer que demitiu os acusados de envolvimento no caso, perde o controle quando questionado sobre o uso de dinheiro público na modernização e a adequação da iluminação do palco do templo Thetokos (Mãe de Deus) comandado pelo popular padre Marcelo Rossi, na Zona Sul da cidade de São Paulo.

O Ministério Público de SP ouviu os envolvidos e intimou a ex-primeira-dama Beatriz Maria Bettanin Doria, conhecida Como Bia Doria, para depor na condição de testemunha. Bia Doria disse que não solicitou qualquer intervenção do Ilume, mas um funcionário do templo disse, em depoimento, que as melhorias só foram possíveis após ordem da ex-primeira-dama.

É preciso saber até quando o escândalo será levado adiante, com se em “banho maria” estivesse, já que ultrapassa as barreiras do inaceitável o fato de que com tantas provas nenhuma autoridade tenha tomado uma decisão em favor dos munícipes paulistanos.