Quando o UCHO.INFO faz críticas ao presidente eleito Jair Bolsonaro e a algumas decisões do governo de transição, não se trata de torcer contra, como alegam os bolsonaristas ensandecidos e descontrolados, mas de cobrar do próximo chefe do Executivo responsabilidade, pois de nada adianta tentar cumprir promessas de campanha que não encontram respaldo na lei. E sem respeitar a lei não há a menor possibilidade de falar em respeito à democracia.
Durante a corrida presidencial, Bolsonaro engrossou a voz para entoar o discurso da moralidade pública, afirmando em diversas ocasiões que combateria com força e intransigência a corrupção no País. Contudo, o que se vê não é exatamente isso, pelo menos nesse período de transição, mesmo com a escolha do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça.
Depois da indicação de Onyx Lorenzoni, que já admitiu o recebimento de dinheiro através de caixa 2 em doação feita pela JBS, agora o presidente eleito surge em cena com a possibilidade de indicar para o Ministério da Saúde um político que é réu em ação penal por desvio de recursos públicos na área da saúde. Como prega o dito popular, Bolsonaro pretende “colocar a raposa para tomar conta do galinheiro”.
Deputado federal pelo Democratas do Mato Grosso do Sul, Luiz Henrique Mandetta é réu em ação penal por fraude e direcionamento em licitação e desvio de recursos públicos quando foi secretário municipal de Saúde de Campo Grande. O Escândalo Gisa, como ficou conhecido o esquema criminoso, teria causado prejuízos de R$ 8,1 milhões aos cofres públicos.
Luiz Henrique Mandetta é acusado pelos crimes de fraudes em licitações e tráfico de influência na contratação do Consórcio Telemídia & Technology International Comércio e Serviços de Tecnologia, presidido pelo empresário Naim Alfredo Beydoun. A ação é resultado da CPI da Saúde da Assembleia Legislativa, que encaminhou a denúncia para o MPF.
Por conta do foro especial, Mandetta era alvo de inquérito que tramitava no Supremo Tribunal Federal (STF), mas com a mudança no entendimento dessa prerrogativa, que agora contempla apenas os crimes cometidos no exercício do mandato parlamentar ou do cargo, o caso foi remetido à primeira instância. O ministro Luiz Fux, do STF, relator do processo, decidiu enviar ação para a Justiça Federal sul-mato-grossense.
A Polícia Federal concluiu a investigação, mas a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitou novas diligências, pedido acatado pelo ministro-relator. Com novos dados fornecidos pela PF, a procuradora ofereceu denúncia no âmbito do Inquérito 3949, recentemente remetido à primeira instância.