Bolsonaro mente ao afirmar que prefeituras demitiram médicos brasileiros para contratar cubanos

Presidente da República eleito, Jair Bolsonaro insiste em jogar para a plateia, quando na verdade deveria adotar postura de alguém preocupado com a situação do País e as soluções para os muitos problemas que terá de enfrentar a partir de 1º de janeiro. Mesmo assim, sua preocupação maior está em dar satisfação ao eleitorado, não sem antes dar passagem à sua ojeriza à esquerda.

Depois do desnecessário discurso contra o regime cubano, o que confirmou seu despreparo para o cargo de presidente, Bolsonaro viu o governo de Havana cancelar a participação no programa “Mais Médicos”, que, segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CMN), poderá deixar 28 milhões de brasileiros sem assistência médica.

Como forma de minimizar os efeitos da decisão do governo cubano, Jair Bolsonaro arrumou desculpas das mais variadas. Começou dizendo que não se pode dar aos mais pobres um atendimento médico sem “garantia” de qualidade. Em suma, “bom mocismo” de ocasião que não convence.

Na sequência, o presidente eleito alegou que os médicos cubanos que atuam no Brasil são submetidos a trabalho análogo à escravidão e que não se pode compactuar com um quadro que viola os direitos humanos. Para quem adota discursos que atentam contra os direitos humanos e recentemente disse que é preciso acabar com o “coitadismo”, Bolsonaro é uma ode ao deboche.

Por último, sem ter mais o que inventar, Bolsonaro, diante da decisão de Havana de retirar aproximadamente 8,5 mil participantes do programa, disse que muitas prefeituras demitiram médicos brasileiros para contratar cubanos, o que é uma criminosa inverdade.


Ao fazer tal declaração, o presidente eleito mostra que seu despreparo para o cargo é maior do que se imaginava, pois esperava-se que como parlamentar em algum momento ele pudesse ter manifestado interesse sobre o funcionamento do “Mais Médicos”. A afirmação de que médicos brasileiros foram dispensados para que cubanos fossem contratados é uma aberração.

Pelas regras vigentes em 2013, quando o programa foi implantado, médicos brasileiros e estrangeiros formados no Brasil têm prioridade para ingressarem no “Mais Médicos”. Na sequência, são chamados os médicos formados graduados no exterior, mas que revalidaram o diploma no Brasil, através do Revalida.

Em seguida são chamados os médicos brasileiros formados no exterior que não revalidaram o diploma por meio do Revalida. Depois, de acordo com as regras do “Mais Médicos”, são convidados a participar do programa os médicos estrangeiros formados no exterior e sem diploma revalidado no Brasil. Somente após todas essas etapas é que o governo brasileiro oferecia as vagas aos médicos cubanos.

Diante do exposto, não haveria razão para uma prefeitura substitui um médico brasileiro por outro cubano, pois ao final o custo será idêntico, mesmo que o profissional cubano tenha de enviar ao governo de Havana a maior parte do salário.

O problema é que os médicos brasileiros se recusam a trabalhar em lugares distantes e remotos, optando por salários maiores e em grandes centros, onde a possibilidade de cursos complementares e de atualização são constantes. Em 2013, de acordo com dados do governo federal, apenas 11% das vagas oferecidas no primeiro edital foram preenchidas por médicos brasileiros.