Em entrevista ao SBT, Fabrício de Queiroz abusa do enredo farsesco e diz ser “um cara de negócios”

Para quem enfrentou recentemente problemas de saúde, a ponto de ter de ir ao hospital para atendimento de urgência e realização de exames, Fabrício de Queiroz, ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) está melhor do que muitos imaginavam. Pelo menos essa é a impressão que o policial militar aposentado deixou durante a entrevista concedida ao SBT, emissora cujo dono, Silvio Santos, vem se aproximando do presidente eleito Jair Bolsonaro.

Durante a entrevista, após sumiço estratégico, Fabrício, cujo nome consta de relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por causa de movimentação bancária considerada “atípica”, disse que é “um cara de negócios”.

“Eu sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro. Eu faço, assim, eu compro, revendo, compro, revendo. Compro carro, revendo carro. Eu sempre fui assim. Sempre. Eu gosto muito de comprar carro em seguradora. Na minha época, lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, vendia. Tenho segurança”, declarou o ex-assessor parlamentar.

Essa desculpa, que não convence, foi arquitetada durante os dias que sucederam a divulgação do escândalo, mas é preciso que Fabrício de Queiroz comprove às autoridades o que afirmou ao SBT. Alegar que a movimentação de R$ 1,2 milhão em sua conta bancária, ao longo de doze meses, é fruto de compra e venda de veículos usados é querer abusar da paciência da opinião pública.

Fabrício faltou a dois depoimentos agendados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, sob a alegação de que estava com problemas de saúde. Seus advogados assumiram o compromisso de entregar aos promotores do caso laudos médico que comprovam as idas do ex-assessor ao hospital, mas não se tem notícia que os documentos foram entregues ao MP fluminense.

O ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) deverá prestar depoimento aos promotores em breve, mas a expectativa é que ele não deve comparecer mais uma vez. A estratégia montada por seus advogados prevê deixar o depoimento para depois da posse de Jair Bolsonaro na Presidência da República, o que de certa forma daria ao próximo inquilino do Palácio do Planalto condições de comandar uma “operação abafa”.


Fabrício de Queiroz tem o direito de dizer o que desejar, inclusive o de mentir, mas é preciso ressaltar que na entrevista ele não esclareceu o fato de ter recebido em sua conta bancária depósitos de servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro. Isso sugere que poderia existir no gabinete um esquema ilegal, porém comum, conhecido “operação gafanhoto”, que “come” parte da folha de pagamento. No momento em que o Ministério Público convocar os servidores para depor, a situação de Queiroz e de Bolsonaro pode piorar, pois a verdade virá à tona.

Sobre o depósito de R$ 24 mil na conta da futura primeira-dama Michelle Bolsonaro, o ex-assessor deu explicação que não convence, mas que passa perto da declaração mambembe do presidente eleito. “Nosso presidente já esclareceu. Tive um empréstimo de R$ 40 mil, passei 10 cheques de R$ 4 mil. Nunca depositei R$ 24 mil”, disse Fabrício.

O relatório do Coaf aponta um depósito único no valor de R$ 24 mil na conta de Michelle Bolsonaro, mas Queiroz dá versão distorcida. Por outro lado, Jair Bolsonaro afirmou que o depósito foi feito na conta da esposa porque ele não tem tempo de ir ao banco.

Amigo do presidente eleito há décadas, o ex-assessor mostrou-se preocupado com a repercussão do caso, mas até agora não esclareceu às autoridades o imbróglio. E falou pela primeira vez ao SBT, depois de Bolsonaro ter almoçado com Silvio Santos recentemente. Como na política inexistem coincidências, está tudo explicado.

“Eu me abati muito, minha calça está caindo, porque numa noite aí, eu falei caramba, acabou minha vida, eu era amigo do cara, o que ele está passando na rua. Entendeu? Achando que eu tenho negociata com ele. Pelo amor de Deus, isso não existe, eu vou provar junto ao MP”, declarou Queiroz.

Sobre o sumiço e a ausência em dois depoimentos, o policial militar alegou problemas de saúde. Afirmou que em breve se submeterá a cirurgia fazer no ombro, além de ter problemas urinários e câncer no intestino. Muito estranhamente, até antes do escândalo Fabrício de Queiroz estava lépido e faceiro.

Não se pode esquecer que o futuro governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, elegeu-se na esteira da popularidade canhestra de Jair Bolsonaro e deverá atuar nos bastidores para que o Ministério Público fluminense “alivie a mão”. Em suma, aqueles que prometeram acabar com a velha política são apenas “mais do mesmo”.