No momento em que a esquerda brasileira precisa se reinventar, Gleisi vai à posse do ditador Maduro

Por mais que esquerdistas e direitistas digam o contrário, não há democracia sem contrapontos. Aliás, o segredo maior da democracia está no equilíbrio das forças opostas, das divergências. Não sendo assim, ou tem-se uma ditadura de direita ou de esquerda. De igual modo, a alternância no poder é saudável para a manutenção e a oxigenação da democracia, mas não se pode aceitar a violação das regras democráticas como parâmetro.

Na última eleição presidencial, a esquerda brasileira foi derrotada, mesmo que por pouca margem, porque, liderada pelo PT, desgarrou-se dos conceitos democráticos para chafurdar na lama da corrupção. Isso porque em marcha havia um projeto de poder que clamava por recursos imundos.

A derrota nas urnas impôs ao PT uma necessidade urgente de se reinventar como legenda, mas ao que parece a presidente nacional do partido, Gleisi Helena Hoffmann, não compreendeu o recado. É certo que o presidente Jair Bolsonaro não conseguirá extirpar a esquerda do cenário político nacional, mas não se deve dar motivos para que isso chegue perto do intento do capitão.

Sempre movida por destampatórios, Gleisi Helena continua apostando no radicalismo como forma de sobrevivência do partido e dela própria, sem perceber que essa receita está ultrapassada e rançosa. É fato que parte da militância petista ainda comunga pelas cartilhas marxistas, mas não se pode creditar a esse eleitorado o bom desempenho de Fernando Haddad nas urnas. O que se viu na eleição foi uma parcela da população votando contra o retrocesso, enquanto outra votou contra a corrupção. Ou seja, o PT tem a obrigação de se reinventar.


Na contramão desse cenário óbvio, Gleisi preferiu viajar a Caracas para participar da cerimônia de posse do ditador Nicolás Maduro, um sanguinário que continua invocando o bolivarianismo para defender o carcomido “socialismo do século XII”. Como se não bastasse, a presidente do PT disse que a reeleição de Maduro é legítima e aconteceu dentro da legalidade constitucional venezuelana, quando sabe-se que não é verdade.

O absurdo vociferado por Gleisi Hoffmann é tamanho, que até mesmo uma das representantes da ala mais radical da esquerda verde-loura posicionou-se contra a presidente dos petistas. A sempre intransigente e estridente Luciana Genro, deputada estadual pelo PSol gaúcho e fundadora da legenda, não perdoou Gleisi, que foi alvo de críticas nas redes sociais.

“Só uma esquerda mofada para apoiar o Maduro a estas alturas”, escreveu a parlamentar do PSol. “E o pior é que a oposição forte é burguesa e elitista”, completou Luciana, que durante dezoito anos foi filiada ao Partido dos Trabalhadores.

Por outro lado, sem qualquer credibilidade, perdida há muito tempo, Gleisi Hoffmann tentou justificar sua decisão de participar da posse de Maduro alegando ser necessário se opor à “política intervencionista e golpista incentivada pelos Estados Unidos, com a adesão do atual governo brasileiro e outros governos reacionários”.