Ingerência de filhos de Bolsonaro em assuntos do governo poderá ter consequências negativas em breve

(Presidência da República)

A ida do presidente Jair Bolsonaro a Davos, na Suíça, onde a partir de terça-feira (22) acontece o Fórum Econômico Mundial, corre o risco de servir para nada. Isso porque o discurso do mandatário brasileiro, por sorte, será muito curto, cabendo aos ministros Paulo Guedes e Sérgio Moro, da Economia e da Justiça, respectivamente, a tarefa de convencer os investidores internacionais de que o Brasil é um porto seguro.

Muitos investidores fecharam os respectivos cofres por conta dos discursos nada democráticos de Bolsonaro durante a corrida presidencial, mas em Davos esperam que o presidente desfaça essa má impressão, provando que a democracia, o respeito às leis e ao Estado de Direito e à liberdade são prioridades do novo governo. De igual modo, os investidores querem saber os planos econômicos do governo Bolsonaro, a começar pelo equilíbrio fiscal, que depende principalmente da reforma da Previdência.

Se Guedes e Moro conseguirão dar conta do recado não se sabe, mas uma coisa é certa entre os integrantes da comitiva brasileira: o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, não tem motivo para estar em Davos e desconhece política a ponto de dar palpites que fogem da sua competência.

Ao retornar de um jantar com o pai, o ministro-chefe do Gabinete e Segurança Institucional da Presidência, Augusto Heleno, e o chanceler Ernesto Araújo, o parlamentar disse que Davos não se interessa pela reforma da Previdência, como se o principal fantasma do déficit fiscal brasileiro não tivesse importância alguma. “Isso é para apresentar lá no Brasil. Todo mundo sabe que está nos planos, que estão estudando e tal”, disse Eduardo Bolsonaro.

De acordo com o deputado, o pai, ao discursar no Fórum, dará destaque ao “comércio sem viés ideológico, que implica tanto China quanto EUA, tanto União Europeia quanto Mercosul”.


“Vamos vender a quem tiver dinheiro para comprar nossos produtos. Mas tem um limite: não dá para vender para a Venezuela, que é uma ditadura com problemas sérios”, disse o filho do presidente.

Eduardo Bolsonaro se contradiz, assim como o pai, pois ao afirmar que “não dá para vender para a Venezuela” o governo está defendendo a tese do comércio com viés ideológico.

Aliás, Eduardo Bolsonaro não é integrante do governo, por isso não deveria falar em nome do presidente, muito menos na primeira pessoa do plural. Pelo que se sabe, não há na estrutura da Presidência o cargo de “primeiro-filho”, que, mesmo se existisse, não daria aos descendentes de Jair Bolsonaro o direito de falar em nome do governo.

Além disso, o ministro Paulo Guedes é responsável por questões econômicas do governo. E Eduardo está a usurpar de forma flagrante as atribuições do ministro da Economia.

Se Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, abusa dessa fanfarronice, é um problema dos norte-americanos, não cabendo a Bolsonaro imitá-lo, colocando em prática o famoso “complexo de vira-lata”.

A ingerência dos filhos do presidente nas questões do governo deve ser analisada com a devida atenção, pois não demorará muito e Bolsonaro terá de lidar com as primeiras deserções na equipe ministerial. É uma questão de tempo.