Davos: Bolsonaro fala sobre o fim das “amarras ideológicas”, mas terá encontros só com direitistas

O que o presidente Jair Bolsonaro fala em pé, não escreve sentado, e vice-versa. Muito antes de embarcar para Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial, Bolsonaro insiste no discurso de que o Brasil se libertará das “amarras ideológicas”. Desde então, o presidente vem dando mostras de que seu discurso não encontra respaldo nas suas atitudes, assim como nas dos seus colaboradores.

Tão logo chegou à cidade suíça, o presidente voltou a entoar a cantilena, reforçando aos jornalistas o que todos já sabem: o governo brasileiro terá novas amarras ideológicas, ao contrário do que diz Bolsonaro. Ou seja, saem as amarras ideológicas da esquerda, entram as da direita. A questão não é direita ou esquerda, mas fazer valer a própria palavra.

No pronunciamento que fez a investidores internacionais, Jair Bolsonaro voltou a insistir no tema, como se nos últimos anos o Brasil tivesse mantido relações comerciais e com investidores alinhados à esquerda. Se assim tivesse ocorrido, o País teria ido pelo ralo em termos econômicos e financeiros.


“Nossas relações internacionais serão dinamizadas pelo ministro Ernesto Araújo, implementando uma política na qual o viés ideológico deixará de existir”, disse Bolsonaro em seu rápido e raso pronunciamento aos investidores internacionais.

Confirmando a nossa afirmação de que Bolsonaro fala uma coisa e faz outra, a agenda do presidente em Davos prevê encontros com governantes ultraconservadores e nacionalistas, que integram um movimento contra o que chamam de “globalismo”.

Bolsonaro terá encontros com representantes da Polônia, República Tcheca, Japão, Itália e Suíça, países que questionam a globalização e defendem o nacionalismo e o protecionismo. Ou seja, a direita internacional tomou para si o discurso que em passado não tão longínquo era exclusividade da esquerda.

Essa seletividade da agenda de Bolsonaro em relação aos encontros com governantes se contrapõe ao discurso do presidente brasileiro, que no pronunciamento aos investidores internacionais disse que o Brasil está pronto fazer negócios com “todos os países do mundo”.