Imbróglio envolvendo Bebianno e Carlos Bolsonaro confirma despreparo do presidente da República

Quando Jair Bolsonaro começou a fugir dos debates, ainda na campanha presidencial, o UCHO.INFO afirmou sem medo de errar que o candidato do PSL era despreparado e não tinha qualificação para o cargo que disputava. Nossa afirmação se mantém até hoje, apesar de todos os ataques direcionados a este noticioso, pois o presidente da República não precisou de muito tempo para provar que estávamos certos.

O episódio envolvendo Carlos Bolsonaro, vereador pelo PSC do Rio de Janeiro e filho do presidente, e o secretário-geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, deixou claro que a crise palaciana é muito maior do que se imaginava. Além disso, o episódio não deixa dúvidas acerca da incapacidade de Jair Bolsonaro de conter os filhos, apesar dos muitos apelos feitos pelos generais palacianos, cada vez mais preocupados com as absurdas ingerências.

O entrevero entre Carlos Bolsonaro e Bebianno não é novo, mas ganhou capítulo extra e flamejante na tarde desta quarta-feira (13), quando o filho do presidente, em publicação nas redes sociais, afirmou que o secretário-geral da Presidência mentiu ao afirmar em entrevista que havia falado três vezes com o presidente no dia anterior.

A afirmação de Bebianno, ao jornal O Globo, foi para provar a inexistência de uma crise no Palácio do Planalto e para descartar a possibilidade de ser demitido por conta do escândalo de uma candidata laranja do PSL de Pernambuco. Por ocasião das eleições de 2018, Gustavo Bebianno era o presidente interino do PSL, já que Luciano Bivar, o “dono” da legenda, estava licenciado do cargo.

Se Bolsonaro está descontente com a atuação do secretário-geral da Presidência, que o demita, mas transferir ao filho a tarefa de desgastar um ministro de Estado mostra sua fraqueza como presidente. Caso queira chegar ao final do mandato, mesmo com uma sequência de tropeços decorrentes do seu conhecido despreparo para o cargo, o presidente precisa antes de tudo enquadrar os próprios filhos. Do contrário, em algum momento acabará enquadrado pelos generais palacianos ou terá de enfrentar uma debandada de ministros. Até porque, ninguém emprestará o próprio currículo para uma ópera bufa protagonizada pelos descontrolados filhos de um presidente sem voz de comando.


Após deixar o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, Jair Bolsonaro tinha a expectativa de aterrissar em Brasília e ser recepcionado com a notícia da demissão de Bebianno, o que lhe daria fôlego para contornar a crise criada por seu filho. Como isso não aconteceu, espera-se que os generais do núcleo duro do governo mais uma vez conversem com Bolsonaro sobre a prole. Mesmo assim, o efeito dessa eventual conversa será de curta duração, pois o presidente é claramente manipulado pelos filhos.

O que poderia ser minimizado pelo presidente acabou fermentado em questão de horas. De volta a Brasília, Bolsonaro compartilhou postagem em que o filho chama Bebianno de mentiroso. Ou seja, o presidente endossou o estopim da crise.

Na hipótese de querer estancar a crise e passar à opinião pública a mensagem de que no governo a decisão final é sua, Bolsonaro deve manter Gustavo Bebianno na equipe, não sem antes afastar os filhos das decisões palacianas. A situação do governo, que há muito exala fragilidade, pode com o passar dos dias, com direito a repercussão imediata no Congresso Nacional, onde o PSL fragmenta-se com o avanço do tempo.

Que em meio a crises governamentais cabeças acabam rolando todos sabem, mas no caso em questão uma possível saída de Gustavo Bebianno dependerá da caneta do presidente da República, uma vez que o secretário da Presidência já afirmou que não pedirá demissão. Em suma, Bebianno pode estar testando o presidente da República ou sabe muito mais do que Bolsonaro gostaria que soubesse.

Na condição de presidente da República, Jair Bolsonaro tem o direito de nomear e demitir quem quiser, no momento que entender adequado, mas não se pode esquecer que Bebianno foi um dos responsáveis por sua vitória nas urnas. A prevalecer a hipótese da demissão, Bolsonaro precisa ser lembrado que político traído é, via de regra, um poço de mágoas.